terça-feira, 30 de novembro de 2010

75 anos sem Pessoa

Quando Fernando Pessoa escreveu no poema Ulysses, da sua obra Mensagem, «O mytho é o nada que é tudo», ele não estaria certamente ciente do quanto essa frase se revelaria autobiográfica. Pessoa, que nos deixou há exactamente 75 anos, mitificou-se, conquistando a imortalidade através da sua obra, do seu carisma, da sua inquietude, da sua nobre simplicidade e da sua heterodoxia tantas vezes paradoxal, aproximando-se desse modo do arquétipo português, chegando quase a fundir-se com o mesmo. Sendo ele próprio o tudo que não era nada, e o nada que era tudo, o poeta, escritor e pensador português encerrou em si mesmo os mistérios de um Portugal que não o soube viver e que o tardou em chorar. A ele, o reino que há de vir.

Fernando Pessoa na 'hora de Baco'.

a citizen of Lisbon, wrote four highly differentiated
bodies of poetry, one under his own name
(Pessoa, as it happens, means 'person')
and the others under the names
Alberto Caeiro, Ricardo Reis, and Álvaro de Campos.
A quiet, self-effacing man who published little
he enjoyed scant reputation in his lifetime,
but is now widely regarded as
'the greatest Portuguese poet since Camões'.


John Wain em Thinking about Mr Person.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mendes Corrêa entre a ciência, a docência e a política

O Núcleo Lusófono da História da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias organiza no próximo dia 9 de Dezembro, pelas 18:00, no auditório Armando Guebuza, o 1º Seminário de História do Património e da Ciência, numa justa homenagem a um dos grandes intelectuais portugueses do século XX - o Doutor Mendes Corrêa
Subordinado ao tema A. A. E. Mendes Corrêa (1888-1960), entre a ciência, a docência e a política, este encontro contará com a participação dos seguintes oradores: Patrícia Ferraz, Matos Teresa, Salomé Mota, Catarina Casanova, João Luís Cardoso, Ana Cristina Martins e João Pereira Neto. A entrada é livre e a frequência deste seminário contará 0,3 ECTS.

(Clicar no cartaz para ampliar.)

domingo, 28 de novembro de 2010

As viagens de Porto Bomvento

Há uns tempos atrás trocávamos impressões com um amigo desta vossa Nova Casa Portuguesa acerca da  importância da literatura de aventura na formação e educação das crianças e jovens, no que concerne à criação de modelos e estruturação de princípios ou qualidades como o respeito pelo próximo, lealdade, bondade, bravura, amizade, espírito de camaradagem, solidariedade, entre outros. Nessa altura, comparamos o interesse das gerações passadas, marcadas pela leitura e descoberta da obra de autores como de Emilio Salgari ou Mark Twain, não negligenciando também  os heróis de banda desenhada, fosse ela americana, franco-belga, italiana ou portuguesa, assim como o teor dos programas de animação que tão ansiosamente esperávamos após o final do TV Rural, numa altura em que a televisão realmente prestava um serviço público, contrapondo com as gerações mais recentes, algo avessas à leitura e presas a modelos frívolos, detentores de uma personalidade dúbia, sem qualquer tipo de código de honra e cavalheiresco, com uma  ausência de moral e valores duvidosos.
A promoção da leitura, em particular das boas leituras, deve representar uma aposta forte por parte do Estado, procurando desta forma diminuir as assimetrias culturais entre a população portuguesa, contribuindo consequentemente para um maior equilíbrio social e posteriormente económico. O programa Ler + do Plano Nacional de Leitura é neste sentido bastante importante, devendo ser encarado de uma forma séria, pelo que obras como o Código DaVinci deverão ser equacionadas antes de integrarem o leque de leituras aconselhadas.
Conhecemos a dura luta de todos os Educadores face à mobilização dos jovens e adultos para a leitura, assim como estamos cientes do poder da imagem enquanto poderoso elemento subsidiário da narrativa. Neste campo, a banda-desenhada poderá ser uma forte aliada dos que se pautam pelos valores da Cultura e da Educação. Por si só, a banda-desenhada assume-se como uma forma de manifestação artística e cultural, longe dos tempos em que era considerada uma arte menor, destinada exclusivamente ao público juvenil. Depois, temos o seu valor como importante recurso pedagógico, podendo ser, dependendo das obras, aplicadas a praticamente todas as áreas do saber, com particular impacto na área das humanidades.
José Ruy, um dos mais conhecidos e prolíferos criadores portugueses de banda desenhada foi dos que muito nobremente contribuiu para um aumento do interesse, divulgação e aprendizagem das histórias da nossa História, cativando e influenciando ao longo da sua longa e frutífera carreira sucessivas gerações de jovens, despertando-os para a literatura e sensibilidade artística. A sua participação em várias publicações periódicas como o Jornal da BD, Tintin ou Spirou, bem como a sua colaboração como caricaturista e ilustrador em vários jornais, ou a publicação de variadíssimos álbuns, nos quais se destaca a série de As Viagens de Porto Bomvento, Os Lusíadas, A História da Cruz Vermelha, entre tantos outros, preenchem uma das mais importantes páginas da história da banda desenhada em Portugal.
De forma estender a nossa contribuição nas comemorações dos 500 anos da tomada de Goa, aproveitamos para invocar a época dourada da Expansão e Descobrimentos Portugueses através das Aventuras de Porto Bomvento, personagem fictícia, um piloto órfão portuense, criado por José Ruy que escreveu, desenhou e publicou 8 álbuns dessa série: Bomvento e os Homens sem Alma, Bomvento no Castelo da Mina, Bomvento no Cabo da Boa Esperança, Bomvento no Brasil, Bomvento em Terras do Lavrador, Bomvento no Cataio, Bomvento na Austrália e Bomvento Recorda a Infância.
«A demolição de um velho prédio na zona histórica da Baixa lisboeta, há muito tempo devoluto e ameaçando ruir a qualquer momento, permitiu trazer à luz do dia um documento inédito: o diário de um marinheiro português que participou em diversas viagens dos Descobrimentos nos séculos XV e XVI. (...)
Uma fonte ligada à Torre do Tombo revelou que o protagonista se chamava Porto Bomvento, possivelmente um simples marinheiro ao serviço da Armada Real Portuguesa cujo nome não estava até agora referenciado em nenhum outro documento histórico conhecido.
Uma coincidência perturbadora está a intrigar os estudiosos: Bomvento é o nome de um  (sic) personagem de banda desenhada, criado pelo desenhador e argumentista José Ruy, herói de um ciclo de aventuras em vários álbuns, publicadas nos anos 80 e 90 pelas Edições ASA. O artista manifestou a sua "enorme surpresa" com esta "singularidade". Porto Bomvento, acrescentou, "foi um (sic) personagem que surgiu um dia na minha cabeça" e não se inspirou em "nenhuma figura encontrada em documentos da época".
»
Carlos Pessoa no prefácio de As Viagens de Porto Bomvento de José Ruy.

(Clicar na capa para ampliar.)

(Clicar na capa para ampliar.)

Compiladas e reeditadas pelas Edições ASA em dois volumes de quatro histórias cada, As Viagens de Porto Bomvento podem ser adquiridas através do site da editora pela módica quantia de 3€ por tomo. Ideal para um público dos 8 aos 88 anos, esta é uma das nossas sugestões para o próximo Natal.

sábado, 27 de novembro de 2010

A Fenomenologia, autor por autor

No seguimento do encontro do ano passado sobre Fenomenologia em Portugal que contou com a participação de António José de Brito, o Instituto de Filosofia da FLUP e o grupo de investigação MLAG (Mind, Language and Action Group) organizam agora um ciclo de conferências intitulado Phenomenology author by author, tendo por finalidade a discussão de alguns dos principais nomes ligados à Fenomenologia, nomeadamente Edmund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty, podendo posteriormente partir destes e da sua obra para as mais recentes investigações a decorrer em Portugal, dentro desta área do pensamento filosófico.
O leque de conferencistas será constituído pelo Professor José Maria Costa Macedo e Maria José Cantista, ambos ex-docentes do Departamento de Filosofia da FLUP, assim como por Pedro Alves, docente na FLUL, e Clara Morando, doutoranda da FLUP.  

Programa

- A primeira sessão, que será dedicada a Husserl e a Fenomenologia, irá ser orientada por Pedro Alves e será apresentada no dia 3 de Dezembro (sexta-feira).

- A segunda sessão, na qual se abordará Heidegger e a Fenomenologia,estará a cargo de José Maria Costa Macedo e terá lugar no dia 6 de Dezembro (segunda-feira).

- A terceira sessão, onde se discutirá acerca de Sartre e a Fenomenologia, estará a cargo de Clara Morando e irá decorrer no dia 13 de Dezembro (segunda-feira).

- A quarta e última sessão, ainda sem data confirmada, versará sobre Merleau-Ponty e a Fenomenologia e será apresentada por Maria José Cantista.

Este ciclo de conferências decorrerá na FLUP nas datas acima mencionadas, a partir das 14h30, na Sala do Departamento de Filosofia (Torre B – Piso 1). Este evento tem entrada livre e está aberto a todos os interessados.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Afonso de Albuquerque e a retomada de Goa

«Goa foi retomada em quatro horas, no dia 25 de Novembro de 1510, dia de Santa Catarina. Como sempre, na véspera de uma batalha, Afonso de Albuquerque tinha conseguido apagar rancores e ódio do coração dos seus capitães, reanimando-lhes o ardor guerreiro e a confiança que, afinal, não podiam deixar de sentir pelo grande talento militar do chefe.»
Geneviène Bouchon em Afonso de Albuquerque - O Leão dos Mares da Ásia.

A edição desta semana do semanário Sol relembra, numa pequena coluna, a importante data de 25 de Novembro de 1510 que marca a tomada definitiva de Goa pelos portugueses. A História veio mostrar a importância deste acontecimento na consolidação e consequente sucesso da política imperial portuguesa no Oriente.
Para esta importante conquista muito dependeu a raça e génio de D. Afonso de Albuquerque, sucessor do Vice-Rei D. Francisco de Almeida no papel de governador da Índia. A sua política de territorialidade e ocupação era algo distinta daquela do seu antecessor, podendo no entanto considerar-se uma e outra complementares.
Homem de uma verticalidade e sentido de Estado irrepreensíveis, D. Afonso de Albuquerque afirmou-se como um líder nato, tanto a nível militar como político e administrativo, tendo ainda conseguido diminuir um pouco a corrupção existente naquelas longínquas terras portuguesas, procurando sempre defender os interesses da nossa coroa. A sua ferocidade e indiscutíveis qualidades guerreiras, comprovadas pela sua longa experiência de armas, coroada de enormes sucessos, não só no Oriente, como também no Norte de África, fez com que ficasse conhecido por César do Oriente, Leão dos Mares, o Terrível, o Grande e o Marte Português. 

Gravura tardia, já do séc. XVIII, representando D. Afonso de Albuquerque,
governador da Índia, sucessor de D. Francisco de Almeida.

Aproveitamos esta data para fazer uma dupla homenagem, a Afonso de Albuquerque e a Miguel Torga, esse outro bastião da portugalidade, sólido como as montanhas do Marão, de onde do alto da sua escrita granítica redigiu o seguinte poema, posteriormente musicado por compositores de renome como José Campos e SousaNuno Nazareth Fernandes

 Afonso de Albuquerque

Quando esta escrevo a Vossa Alteza
Estou com um soluço que é sinal de morte.
Morro à vista de Goa, a fortaleza 
Que deixo à Índia a defender-lhe a sorte.

Morro de mal com todos que servi, 
Porque eu servi o rei e o povo todo. 
Morro quase sem mancha, que não vi 
Alma sem mancha à tona deste lodo. 

De Oeste a Leste a Índia fica vossa; 
De Oeste a Leste o vento da traição 
Sopra com força para que não possa 
O rei de Portugal tê-la na mão. 

Em Deus e em mim o Império tem raízes 
Que nem um furacão pode arrancar... 
Em Deus e em mim, que temos cicatrizes 
Da mesma lança que nos fez lutar. 

Em mais ninguém, Senhor, em mais ninguém 
O meu sonho cresceu e avassalou 
A semente daninha que de além 
 A tua mão, Senhor, lhe semeou. 

Por isso a Índia há de acabar em fumo 
Nesses doirados paços de Lisboa; 
Por isso a Pátria há de perder o rumo 
Das muralhas de Goa. 

Por isso o Nilo há de correr no Egipto 
E Meca há de guardar o muçulmano 
Corpo dum moiro que gerou meu grito 
De cristão lusitano. 

Por isso melhor é que chegue a hora 
E outra vida comece neste fim... 
Do que fiz e não fiz não cuido agora: 
A Índia inteira falará por mim. 

Miguel Torga.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Greve Geral

«Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.»
                                                          Provérbio popular.

Mendigo Lapita, pintura de Henrique Pousão,
datada de 1880.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A filmografia de Michel Giacometti

«Há uma velha moda alentejana, entre as muitas que ele por cá ouviu e gravou, que diz: Eu sou devedor à terra / A terra me 'stá devendo / A terra paga-m'em vida / Eu pago à terra em morrendo. Deste povo que canta a vida do mesmo modo que canta a morte, como se uma não tivesse sentido sem a outra, guardou Michel a alma antiga já em névoa. E por isso não foi morrendo que ele pagou a sua dívida à terra Portuguesa, foi nela vivendo. (...)
Michel Giacometti é, repete-se, um português que, não por acaso, nasceu um dia na Córsega. Sempre o vimos como tal. E continuaremos a vê-lo, agora que por graças da técnica, ele regressa vivo para nós.
Ouçam-no, vejam-no, admirem o seu trabalho e empenho. O que ele filmou e gravou ter-se-ia perdido para sempre, não fosse a sua teimosia. Giacometti salvou-nos a alma.
»
Nuno Pacheco em Michel Giacometti - filmografia completa vol. 1.

O etnomusicólogo Michel Giacometti.

As palavras acima transcritas de Nuno Pacheco sobre Michel Giacometti, parecem-nos exageradamente exacerbadas, fruto de uma provável emoção perante o peso da obra deste grande nome da etnografia portuguesa, agora finalmente compilada e disponibilizada ao grande público.
Conforme nos relembrou José Alberto Sardinha num artigo publicado na edição do seminário Expresso de 6 de Junho de 1999, as recolhas de Michel Giacometti, não obstante a sua importância e peso, não devem ser olhadas como um resultado exclusivo, cabendo-nos aqui a obrigação de fazer uma  breve nota, salvaguardando trabalhos menos conhecidos, levados a cabo anos antes por etnógrafos e etnomusicólogos como Armando Leça, Kurt Schindler, Virgílio Pereira, Ernesto Veiga de Oliveira ou o próprio Fernando Lopes Graça. Destes, o mais importante foi indubitávelmente Armando Leça, cujos levantamentos de campo, efectuados a pedido da Comissão dos Centenários em meados de 1939, foram pioneiros e extensivos a todo território nacional, ficando apenas conhecidos pelo público em meados de 1983.
Polémicas à parte, o legado de Michel Giacometti constitui um verdadeiro tesouro do património imaterial português. Os seus trabalhos de recolha, desenvolvidos em território nacional a partir da década de 1970, permitiram o registo e a preservação do imaginário rural português, tantas vezes mais duro e árduo do que romântico. Contudo, beleza é o primeiro sentimento que podemos vivenciar ao visualizar os pequenos nadas que formam e constituem o corpo musculado de uma nação, na sua mais profunda essência e tradição. As imagens e sons capturados pelo etnomusicólogo francês natural da ilha de Córsega são no mínimo arrepiantes, permitindo-nos conhecer a força, o carácter, a fibra, o espírito e as vivências mais genuínas do povo português.
As suas recolhas áudio são há muito conhecidas no circuito comercial, em particular as que resultaram de um trabalho conjunto com o compositor Fernando Lopes Graça, tendo estas sido alvo de diversas edições, nos formatos vinil e CD. Contudo, a filmografia de Giacometti permaneceu guardada até hoje em arquivos vários, sendo raramente visualizada em sessões esporádicas, ou através de curtas passagens na televisão enquanto imagens de arquivo. Foi por isso oportuno o lançamento conjunto entre o jornal Público e a editora Tradisom, da obra Michel Giacometti - filmografia completa. Com o primeiro número a chegar às bancas no passado dia 22 de Novembro, esta colecção comemorativa do vigésimo aniversário do desaparecimento de Giacometti, constitui-se por 12 volumes, entre livros DVD e CD, podendo ser adquirido em qualquer quiosque, durante todas as segundas-feiras das próximas 11 semanas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Descobrir Buda

Um dos grandes erros da academia portuguesa do séc. XIX e XX foi a não criação de centros de estudos orientais nas nossas universidades, ao contrário do que aconteceu em países como a Inglaterra, ou até mesmo noutros sem qualquer tipo de tradição no contacto directo com o Oriente.
Urge por isso realizar hoje essa ponte, ainda por edificar, entre o Portugal Ocidental e o seu Oriente, de forma a completar-se esse círculo de diálogo intercultural e espiritual, iniciado há mais de 500 anos com as Descobertas Portuguesas.
Levantando um pouco o véu axiomático de uma das grandes religiões orientais, Paulo Borges apresentará amanhã, dia 23 de Novembro, pelas 21:30, no Clube Literário do Porto, o seu mais recente livro intitulado Descobrir Buda, seguindo-se mais uma apresentação do novo número da revista Cultura entre Culturas que desta feita se encontra subordinada ao tema Encontro Ocidente-Oriente, numa clara evocação da chegada dos Portugueses a Goa.
A todos os que possam estar interessados, aproveitamos para lembrar que este encontro tem entrada gratuita.

Capa do livro Descobrir Buda de Paulo Borges,
recentemente editado pela Âncora Editora.

domingo, 21 de novembro de 2010

Finis Mundi - A Última Cultura

Realiza-se no próximo dia 9 de Dezembro, pelas 21:00, no Palácio da Independência em Lisboa, o lançamento do primeiro número da revista de cultura e pensamento Finis Mundi. Editada pela Antagonista, esta revista trimestral reúne uma série de artigos e ensaios subordinados a diversas áreas do conhecimento, procurando suscitar a atenção do leitor para a necessidade de repensar o estado da cultura portuguesa segundo uma perspectiva  ou paradigma ocidental.
Esta sessão de apresentação contará ainda com as comunicações de António Marques Bessa e Alain de Benoist. A entrada é livre.

(Clicar no cartaz para ampliar.)

Lista de conteúdos e colaboradores do primeiro número

A ÚLTIMA CULTURA:
Editorial
Finis Mundi
- António Marques Bessa
«É a Hora!» Um ensaio pessoano sobre um aviso determinado
- Vítor Luís Rodrigues

ENSAIO:
A vivência espiritual portuguesa: estigma histórico-cultural I
- Sónia Pedro Sebastião
De “A imaginação ao poder” à impotência da imaginação: Um balanço da cultura soixante-huitard a quarenta anos de distância I
- Alexandre Franco de Sá

ACTUALIDADE:
Finisterra ou Da Ética e Seus Fundamentos
- Henrique Salles da Fonseca
O Que é a Pátria?
- Joaquim Reis
A história, a inflação, as moedas e...
- Francisco G. de Amorim
Raízes e Utopias do nosso tempo
- Mendo Castro Henriques
Podemos hoje confiar no Estado?
- Manuel Brás
Bilderberg: A irmandade da globalização
- Basílio Martins
Agostinho da Silva: para além da Esquerda e da Direita, uma visão de futuro
- Renato Epifânio
Cimeira da CPLP no país do Ali Babá
- Vítor Martins 
A necessidade de responsabilizar os políticos pelos estragos que causam com as suas acções
- Rainer Daehnhardt

HISTÓRIA:
As primeiras cobiças dos EUA sobre os Açores
- João José Brandão Ferreira
Fascismo e Estado Novo
- João Gomes

PATRIMÓNIO:
Discurso etnográfico sobre o foral de Vila Franca do Campo
- Carlos Melo Bento
Encontrar as raízes: As Fragas de Panóias
- Filipe Miguel Dias Cardoso
O Paço dos Duques de Bragança em Guimarães. Uma Afirmação de Poder
- Duarte Branquinho

MITOLOGIA & TRADIÇÃO:
Viriato: o mito heróico revisitado
- Júlio Mendes Rodrigo 
O Enigmático e Misterioso Homem da Maça
- José António Miranda Moreira de Almeida
Monarquia e Fundação da Nacionalidade
- Eduardo Amarante

RESENHA:
Creepshow
- Rui Baptista
Mircea Eliade revisitado
- Constança Araújo

ENTREVISTA:
Filipe Faria - Crónicas de Allaryia 
Manuel Fúria - Os Golpes 
Ian Read - Fire + Ice
In Gowan Ring
Autumn Grieve

CULTURA:
Literatura fantástica portuguesa – Os caminhos da imaginação
- Roberto Mendes
Música folclórica e esoterismo
- Luís Tavares do Couto
As Aventuras de Anna em Portugal
- Mário Casa Nova Martins
Cultura e identidade
- João Franco

MUNDO:
O Financismo, Estádio Intermédio do Capitalismo
- Aleksandr Dugin
Crise. Qual Crise? Lucros em barda!
- James Petras 
À Espera de 2012
- Leonid Savin
Morte por globalização — Os economistas estão à nora
- Paul Craig Roberts

PENSAMENTO:
A Justiça vítima das ideologias
- Alain de Benoist
A dissidência como método
- Alberto Buela
A crítica à democracia
- Sandra Maria Rodrigues Balão

sábado, 20 de novembro de 2010

A pena de quem tem duas virtudes

Procurando expiar nos seus heterónimos e semi-heterónimos o mal nascido da sua frenético-compulsiva actividade cognitiva, Fernando Pessoa viveu ainda assim numa permanente angústia originada  pela interminável busca da verdade e do tudo, através da sua enorme heterodoxia intelectual. 
Um dos seus semi-heterónimos mais curiosos é indubitavelmente Álvaro Coelho de Athayde, 20º Barão de Teive. Tendo escrito um único livro, inicialmente intitulado O último manuscrito do Barão de Teive, este viria a ficar conhecido por O único manuscrito do Barão de Teive, assistindo-se nesta obra ao relato extraordinário e assaz angustiante da procura falhada da adequação ou conjugação da racionalidade e das paixões.
O excerto de seguida transcrito mostra bem o cerne da discussão em torno do pensamento Teiviano, iluminando as reminiscências deste heterónimo inacabado e sacrificado mortalmente de forma a poupar e preservar o próprio Pessoa.
«Não há maior tragédia do que a igual intensidade, na mesma alma ou no mesmo homem, do sentimento intelectual e do sentimento moral. Para que um homem possa ser distintamente e absolutamente moral, tem que ser um pouco estúpido. Para que um homem possa ser absolutamente intelectual, tem que ser um pouco imoral. Não sei que jogo ou ironia das coisas condena o homem à impossibilidade desta dualidade em grande. Por meu mal, ela dá-se em mim. Assim, por ter duas virtudes, nunca pude fazer nada de mim. Não foi o excesso de uma qualidade, mas o excesso de duas, que me matou para a vida»
Barão de Teive em A Educação do Estóico.

Frontispício da edição da Assírio & Alvim de A Educação
do Estóico
, da autoria do Barão de Teive.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

847

847 foi o número de visitantes que recebemos durante o primeiro mês de vida deste espaço. Gostaríamos de agradecer a todos os que nos têm honrado com as suas visitas, esperando poder continuar a contar com a vossa presença nesta casa, sempre portuguesa.

A todos muito obrigado!

No rescaldo de um bom resultado da equipa das quinas

«A palavra multidão, no sentido vulgar, representa um conjunto de indivíduos, qualquer que seja a nacionalidade, profissão ou sexo e quaisquer que sejam também os acasos que os reuniram.
Do ponto de vista psicológico, a palavra multidão assume um significado totalmente diferente. Em determinadas circunstâncias, e apenas nessas, um aglomerado de homens possui características  novas muito diferentes das de cada individuo que o compõe. A personalidade consciente dilui-se, os sentimentos e as ideias de todas as unidades estão concentrados numa mesma direcção. Forma-se uma alma colectiva, transitória, sem dúvida, mas com traços muito nítidos. A colectividade transforma-se então naquilo que, à falta de uma expressão melhor, designarei por uma multidão organizada ou, se preferirmos, uma multidão psicológica. Ela forma um ser único e encontra-se submetida à lei da unidade mental das multidões.
»
 Gustave Le Bon em Psicologia das Multidões.

O futebol, mais do que um desporto de massas, é acima de tudo um catalisador de paixões e emoções, podendo, segundo a lógica inscrita na passagem do sociólogo e psicólogo social Gustave Le Bon, constituir um móbil para a desvinculação ou mera subtracção do eu, originando o nascimento de toda uma nova identidade colectiva.
Apesar de efémero, mas não menos perigoso, não devemos incorrer no erro de negligenciar o poder social e psicológico deste fenómeno desportivo, cada vez mais, convertido em entretenimento de massas pela obscena sociedade do espectáculo. Conscientes da deformação social que esta prática desportiva inflige à sociedade contemporânea, impondo-se como uma espécie de paradigma cultural e sócio-económico, continuamos a acreditar na possibilidade de direccionar toda a energia concentrada neste género de fenómenos para algo produtivo. Lembremos os vários estudos realizados nos últimos anos, dando conta, por exemplo, do reforço moral obtido pelos trabalhadores no dia seguinte a um bom resultado da sua equipa de predilecta.
O dia de hoje assume certamente estes contornos em virtude do rescaldo do grande resultado desportivo obtido ontem pela nossa selecção,  ou seja, os 4-0 conseguidos face à poderosa equipa espanhola, detentora dos títulos de campeã da Europa e do Mundo.
Conforme sabemos, a Espanha foi ao longo da história a nossa eterna rival, fosse a nível político, económico, militar ou até mesmo desportivo. As duas selecções nacionais defrontaram-se por variadíssimas ocasiões com resultados globais mais favoráveis para os espanhóis, numa tendência negativa que nos últimos anos se tem alterado em benefício dos portugueses. Dos humilhantes 9-0 sofridos em 1934, num jogo disputado no âmbito da qualificação para o campeonato do mundo, à nossa primeira vitória por 2-1, alcançada em Vigo no Estádio dos Balaídos em 1937, numa partida não reconhecida pela F.I.F.A. em virtude da fractura espanhola em resultado da sua guerra civil, até ao primeiro jogo ganho num confronto oficial e de modo categórico por 4-1 no Estádio Nacional, muito foi mudando na selecção das quinas e no tipo de futebol por ela praticado.
As notícias das vitórias portuguesas sobre os espanhóis elevaram na altura os jogadores à qualidade de heróis nacionais por aclamação do popular e não institucional como hoje nos tentam fazer crer. E porque na altura os tempos eram de facto outros, resolvemos hoje prestar aqui uma justa homenagem a esses atletas portugueses que pela primeira vez derrotaram a vizinha Espanha no futebol.

Primeira página da edição de 29 de Novembro de 1937 do Diário de Notícias,
destacando a primeira vitória conseguida pela selecção portuguesa de futebol
ante a sua homologa espanhola. Em virtude da guerra civil de Espanha, este
jogo nunca chegaria a ser oficializado pela F.I.F.A. 


O atleta do Futebol clube do Porto, Artur de Sousa, também conhecido por pinga,
ficaria célebre ao marcar o primeiro golo da primeira vitória alcançada sobre
a Espanha.

Imagem dos festejos do primeiro golo de Pinga na primeira vitória de Portugal
sobre a Espanha.

Momentos iniciais da primeira vitória oficial de Portugal sobre a Espanha. O
desafio de carácter amigável decorreu no Estádio Nacional a 26 de Junho de
1947, tendo terminado com o resultado de 4-1 para Portugal.

Foi num Estádio Nacional completamente cheio que Portugal conseguiu pela
primeira vez derrotar a Espanha num desafio oficial.

Momento de celebração da equipa das quinas após a marcação de um dos 4
tentos com que levaram a equipa espanhola de vencida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mente, Meditação e Despertar da Consciência: um novo paradigma

Integrado no ciclo de conferências Consciência e Religião: Perspectivas promovido pelo Município de Barcelos desde o início do presente ano, será apresentada por Paulo Borges no próximo dia 19 de Novembro, pelas 21:30, uma comunicação subordinada ao tema Mente, Meditação e Despertar da Consciência: um novo paradigma.
Após a conferência, haverá ainda espaço para a apresentação do segundo número da revista Cultura entre Culturas, agora dedicado ao tema Encontro Ocidente-Oriente, assim como do último livro de Paulo Borges intitulado Descobrir Buda.
Esta iniciativa decorrerá no Auditório da Câmara Municipal de Barcelos e tem entrada livre.

(Clicar na imagem para ampliar.)
A comunicação mostra como a milenar tradição budista e a ciência contemporânea se unem na constatação de que o treino regular da mente, ou meditação, em exercícios de atenção plena e sensibilização a todos os seres sencientes, contribui para uma transformação profunda da consciência individual e, a partir daí, da sua percepção e presença no mundo. Os benefícios da meditação são assim globais, abrangendo não só a esfera da espiritualidade e da cultura, mas convidando também a uma transformação social, económica e política segundo um novo paradigma holístico, em que se vise o bem comum à natureza e a todos os seres vivos. 

Paulo Borges - Lisboa, 5.10.1959. Professor de Filosofia na Universidade de Lisboa. Presidente da Associação Agostinho da Silva e da União Budista Portuguesa. Vice-Presidente da Associação Interdisciplinar para o Estudo da Mente. Co-director da revista Nova Águia e director da revista Cultura ENTRE Culturas. Últimas obras: O Budismo e a Natureza da Mente (com Matthieu Ricard e Carlos João Correia), 2005; Agostinho da Silva. Uma Antologia, 2006; Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, 2006; Línguas de Fogo. Paixão, Morte e Iluminação de Agostinho da Silva, 2006; Princípio e Manifestação. Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes, 2 vols., 2008; A Cada Instante Estamos A Tempo De Nunca Haver Nascido, 2008; Da Saudade como Via de Libertação, 2008; A Pedra, a Estátua e a Montanha. O V Império no Padre António Vieira, 2008; O Jogo do Mundo. Ensaios sobre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, 2008; Uma Visão Armilar do Mundo, 2010.
 Extracto retirado do sumário da conferência.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A mensagem das andorinhas de Bordalo

Se há algo que nos domina e predomina na cultura portuguesa é o Amor, esse estranho e inexplicável sentimento descrito magistralmente por Luís Vaz de Camões, o Poeta entre os poetas, da seguinte forma:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer; 
É um não querer mais que bem querer; 
É solitário andar por entre a gente; 
É nunca contentar-se de contente; 
É cuidar que se ganha em se perder; 

É querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor; 
É ter com quem nos mata lealdade. 

Mas como causar pode seu favor 
Nos corações humanos amizade, 
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
De Norte a Sul de Portugal, indo aos nossos arquipélagos e antigos territórios ultramarinos, encontrámos vestígios e reminiscências desse sentimento-essência constituinte do arquétipo português e da nossa memória colectiva. A cultura popular, pródiga na sua sublime forma de expressar o inexpressível, exterioriza esta realidade de um modo tão genuíno que se torna capaz de derrubar muros ou obstáculos intransponíveis pelos mais doutos intelectuais. Invoquemos a título de exemplo os famosos lenços de amor, tradicionais do belo Verde Minho. Simples na sua concepção, possuem uma força em potência de alcance inestimável, revelando-se autênticos pedaços de alma materializados de forma a poderem ser partilhados.
Não são raras as vezes em que a própria Natureza influi sobre o Homem, tornando-o axiomaticamente bom  e receptivo aos mais altos valores, como o Amor, Lealdade e Fidelidade. Tudo por um mero processo inconsciente de mímesis.

Andorinha de cerâmica proveniente da Fábrica de Faianças
Artísticas Rafael Bordallo Pinheiro
, nas Caldas da Rainha.

Ciente ou não dessa realidade metafísica e antropológica, Rafael Bordalo Pinheiro, em meados de 1891, iniciou na sua fábrica a produção de pequenas andorinhas em cerâmica que ele próprio desenhara. Uma peça que rapidamente integrou e povoou o artesanato e imaginário popular português.
Ave migratória que aquando do seu regresso a um determinado sítio procura construir o seu ninho sempre no mesmo local onde anteriormente habitara, a andorinha, por possuir um único parceiro ao longo da vida, assumiu um simbolismo conotado com valores como Lar, Família, mas sobretudo, Amor, Lealdade e Fidelidade. 
Desta forma, facilmente assimilável pela grei em virtude da sua própria identificação com a mensagem expressa, vulgarizou-se a troca de andorinhas cerâmicas entre os amantes, usadas não só como gesto  de amor ou troca simbólica, mas também como uma espécie de amuleto de harmonia, felicidade e prosperidade no lar e no seio da sempre sagrada família. 
Recuperemos por isso velhos hábitos, pois nunca é tarde demais para admirarmos o voo mágico das aves ou oferecermos uma andorinha a quem verdadeiramente amamos. A quem verdadeiramente queremos e nos completa.

domingo, 14 de novembro de 2010

Atenção! Atenção! Aviso da população!

Porque algo vai mal no nosso Portugal, a cidade do Porto despertou esta semana decorada com os seguintes cartazes: 

(Clicar na fotografia para ampliar.)

sábado, 13 de novembro de 2010

Summa Techno(i)logicae

«No pós-modernismo tudo passa pela grelha da comunicação, o que naturalmente, enfraquece a importância do real, do novo e da experiência.»
Júlio Mendes Rodrigo em Summa Techno(i)logicae.


A FNAC e a Negra Tinta Editorial convidam todos os potenciais interessados para o lançamento do livro Summa Techno(i)logicae, da autoria de Júlio Mendes Rodrigo, a decorrer no próximo dia 18 de Novembro, pelas 21:30, no auditório da FNAC do MAR Shopping em Leça da Palmeira.
Este livro, com nota introdutória de Joaquim Amândio Santos e prefácio de José Almeida, reúne um conjunto de dispersos de Júlio Mendes Rodrigo, produzidos ao longo de aproximadamente uma década, tocando áreas tão dispares como historiografia, antropologia, psicanálise, arte, musicologia, cinema, literatura e crítica literária, cybercultura, metapolítica, religião ou esoterismo.
Para além de Educador de primeira linha e intelectual erudito multifacetado, o autor de Summa Techno(i)logicae é ainda viva encarnação do blog Die Elektrischen Vorspiele, ao qual sugerimos uma prolongada visita.
Este é um lançamento há muito aguardado, pelo que recomendamos vivamente o seu testemunho através da comparência neste evento.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Maldição de Marialva

«A realidade é mais subtil do que aquilo que a gente vê. As incursões esotéricas que faço são tentativas de penetrar no universo real. Aliás, pode dizer-se que o meu fantástico é mais real do que o real.»
 António de Macedo em entrevista ao Se7e, Março de 1989.

Tantas vezes negligenciado e injustamente menosprezado, o cinema português tem-se mantido oculto ao longo da sua história, como um tesouro ainda por descobrir. Felizmente, as portas têm-se aberto paulatinamente no estrangeiro aos realizadores e cineastas portugueses, possibilitando uma maior projecção do cinema nacional, mostrando-se assim outros nomes para além do já habitual e mundialmente aclamado mestre da sétima arte, Manoel de Oliveira.
Contudo, alguns talentos, não obrigatoriamente novos, são ainda hoje insistentemente esquecidos. Não pela falta de qualidade da sua obra, mas antes pela sua não subjugação ao sistema mafioso de financiamento artístico e suas dogmáticas preferências estéticas. Falamos muito concretamente de casos como os dos realizadores Margarida Cordeiro e António de Macedo que, não obstante terem já uma vasta experiência cinematográfica de qualidade comprovada e materializada numa considerável filmografia, se viram por força do sistema, obrigados a deixar de filmar.
Assim, gostaríamos hoje de prestar uma merecida homenagem a António de Macedo, o professor universitário, ensaísta esotérico e realizador, invocando uma das suas obras cinematográficas mais famosas intitulada A Maldição de Marialva.
Estreado em 1990, ano em que foi nomeado para a categoria de melhor filme no Festival Internacional de Cinema do Porto - Fantasporto, A Maldição de Marialva constitui um importante marco na história do cinema nacional, tratando-se ainda hoje do único filme português de fantasia ambientado na Idade Média. Abertamente inspirado na lenda portuguesa da Dama do Pé-de-Cabra, compilada no séc. XIX por Alexandre Herculano na sua obra Lendas e Narrativas, a acção deste filme decorre na localidade portuguesa de Marialva, situada na actual região da Beira Alta, após a invasão árabe da Península Ibérica, recriando um mundo medieval  às portas do ano mil, mergulhado no obscurantismo e superstição. Contando com um elenco de luxo, onde encontramos nomes como Lídia Franco, Carlos Daniel, Julie Sargeant, Raquel Maria, Carlos Santos, Catarina Avelar, Natália Luiza, Manuela Cassola, Paulo Matos, José Eduardo, entre muitos outros, este filme destaca-se pelo extremo cuidado nos diálogos entre personagens, bem como pelo esforço no tratamento do guarda-roupa e cenários digno de salientar. A banda sonora, responsável por parte da envolvência que o filme sugere, ficou a cargo de António Sousa Dias, tendo a direcção musical sido da responsabilidade da saudosa compositora Constança Capdeville.
Este filme nasceu de uma co-produção entre a RTP e a TVE, no âmbito de um projecto desenvolvido em parceria com outras congéneres europeias, visando a realização de um conjunto de filmes, 6 no total,  todos eles inspirados na tradição popular, lendas e história de cada um dos países envolvidos. Esta colecção de obras ficaria mais tarde conhecido por Sabbath.
O acesso público à versão original deste filme é hoje praticamente impossível salvo as raras apresentações públicas e televisivas. Guardado nos arquivos "quase secretos" da Cinemateca Nacional, não existe no mercado nenhuma edição comercial portuguesa de A Maldição de Marialva. Resta apenas, aos que gostariam de poder contemplar esta obra de arte, uma sofrível edição espanhola, com o áudio dobrado e sem legendas noutros idiomas, lançada em formato DVD pela própria TVE e distribuída pela DVDGO, .
De seguida ficam algumas imagens deste filme que esperamos venha a receber uma condigna edição em Portugal.

Em Marialva, só pedra e pó...

A (in)justiça.

A fé.

O fausto.

D. Gunefredo encarnado pelo actor Carlos Santos.

Marialva, a endemoninhada moura encantada.

Lídia Franco como Marialva.

Os demónios entre os mortos, um prenúncio de tragédia.

A corte mourisca-luciferina da bela e misteriosa Marialva.

Carlos Daniel no papel de Hélio.

Farinha branca e imaculada denuncia a natureza demoníaca de Marialva.

Julie Sargeant no papel de Lovesenda.

A maldição e o conjuro de Marialva.

O exorcismo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

É dia de S. Martinho

«Em dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.»
Ditado popular.

Festejando o S. Martinho ou Os Bêbados, pintura de José Malhoa, datada de 1907.

Estudo de José Malhoa para o mesmo quadro.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Portugal no livro European Folk Dance de Joan Lawson

O nome de Joan Lawson será certamente conhecido de todos os apaixonados pela dança. Para além de bailarina, esta inglesa foi também uma importante professora e investigadora na área da dança, responsável pela criação do National Dance Branch da Imperial Society of Teachers of Dancing, entidade pela qual são anualmente certificados centenas de jovens bailarinos e bailarinas em Portugal a quem, a muito custo, os pais financiam um sonho de um dia vingarem num dos mais duros cenários do mundo das artes. Autora de inúmeros livros, fossem sobre técnica do ballet clássico ou história da dança, clássica ou tradicional, Joan Lawson é tida, sobretudo em Inglaterra, como uma autoridade no domínio da dança.
Contudo, até as grandes autoridades e os maiores especialistas cometem erros, não representando este caso uma excepção.
Em 1953 Joan Lawson aventurou-se no lançamento de um livro intitulado European Folk Dance que, tal como o nome indica, procurava retratar os diversos tipos de dança folclórica espalhados pelo velho continente, fazendo, como seria de esperar, uma breve introdução à cultura de cada país ou povo analisado Ora, conforme poderão facilmente verificar através das duas únicas páginas que a autora dedicou à riqueza do nosso folclore e, neste caso em particular, à dança folclórica, o resultado desse olhar sobre o mais ocidental dos países europeus revelou-se no mínimo desatento. Esse olhar demasiado circunscrito e redundante sobre determinados aspectos da nossa  história, cultura e tradição, mostram um total desconhecimento sobre a realidade portuguesa e o verdadeiro ethos do nosso povo.
Apesar de quase hilariante, a descrição do folclore português em European Folk Dance representa ainda assim um interessante teste de diagnóstico à forma como a cultura portuguesa se apresenta aos olhos dos que de fora nos contemplam, ou seja, desconhecida e distorcida.
Para que todos possam comprovar o que atrás expressámos, deixamos de seguida as duas páginas consagradas a Portugal em European Folk Dance.

(Clicar na imagem para ampliar.)

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mário Cesariny - Encontros IV

Dorme Meu Filho

Dorme meu filho
dezenas de mãos femininas trabalham
a atmosfera 
onde os namorados pensam cartazes simples
um por exemplo
minúsculo crustáceo denominado ciclope
por baixo da pele ou entre os músculos

Dorme meu filho
o amor
será 
uma arma esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas 

Mário Cesariny em Pena Capital.

A Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, irá realizar nos próximos dias 25, 26 e 27 de Novembro a IV edição dos Encontros Mário Cesariny. Esta iniciativa que visa homenagear o grande surrealista português Mário Cesariny contará com várias exposições, debates, oficinas de poesia, projecções cinematográficas consagradas ao surrealismo e algumas intervenções musicais, com especial destaque para a apresentação do espectáculo Estilhaços de Cesariny, da autoria de Adolfo Luxuria Canibal.

(Clicar na imagem para ampliar o programa.)

Uma vez mais esta oferta cultural é gratuita, pelo que sugerimos a vossa participação nesta justa homenagem.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Definição da Nação Portuguesa hoje, como há 80 anos

Numa altura de difícil compreensão quotidiana para todos os que ainda merecem ser chamados de Portugueses, devemos relembrar as sábias palavras do último dos líderes providenciais, Dr. António de Oliveira Salazar. Assim, em forma de parábola afirmamos a viva voz nesta época de nevoeiro que, no tempo do nosso saudoso Presidente do Conselho, a Pátria e a sua Essência Sagrada não eram passíveis de discussão, os interesses Nacionais imperavam sobre todo e qualquer tipo de pressões, Portugal responsabilizava-se pela sua Sagrada Missão, o Povo aspirava a viver e realizar os seus sonhos, o Estado era um Bom Pai e não um mau padrasto, existia justiça, rigor, crescimento e desenvolvimento sustentável. Portugal era, acima de tudo, um Estado livre e soberano. 
Hoje, entregues às mãos sujas de mercenários assassinos, ladrões, proxenetas e agiotas de baixo calibre, assistimos à subversão de valores e princípios ancestrais segundo os quais nos edificamos. Acompanhamos em directo a venda de Portugal a retalho, numa tentativa desesperada de encobrir 76 anos de tirânica incompetência governativa, mutilação Pátria e castração do que lhe é mais valoroso, ou seja, as suas gentes.
Chegou o momento derradeiro. Há que calar as venenosas vozes da mentira, despertar o povo adormecido e reerguer Portugal. 

Dr. António de Oliveira Salazar.
«Na nossa ordem política, a primeira realidade é a existência independente da Nação Portuguesa, com o direito de possuir fora do Continente europeu, acrescendo à sua herança peninsular, por um imperativo categórico da História, pela sua acção ultramarina em descobertas e conquistas, e pela conjugação e harmonia dos esforços civilizadores das raças, património marítimo, territorial, político e espiritual abrangido na esfera do seu domínio ou influência.
Desta forte realidade e desta primeira afirmação outras derivam imediatamente: a primeira é que estão subordinados aos supremos objectivos da Nação, com seus interesses próprios, todas as pessoas singulares e colectivas que são elementos constitutivos do seu organismo; em contraposição e garantia da eficácia superior deste sacrifício afirma-se também que a Nação não se confunde com um partido, um partido não se identifica com um Estado, o Estado não é na vida internacional um súbdito mas um colaborador associado. Em palavras mais simples: temos obrigação de sacrificar tudo por todos, não devemos sacrificar-nos todos por alguns.
Tão evidentes e naturais são estes princípios que defini-los pode parecer uma superfluidade. Mas a quem considerar algumas das ideologias que estão tendo o favor do nosso tempo, tais pontos de partida hão-de aparecer como a primeira necessidade do nosso direito público. São-no na vida interna como princípio informador da nossa actividade e clara afirmação de todo o nosso destino, perante nós próprios, enfraquecidos na unidade nacional pelo espírito do partido, roídos nos interesses materiais pelo espírito do parasitismo e de favor. São-no diante do mundo em época de intensa vida e colaboração internacional e eivada de vários internacionalismos e cosmopolitismos, e são-no ao menos nos momentos decisivos em que daí possam provir ameaças, restrições, negações dos nossos títulos jurídicos.
Formou-se o País quase num jacto, desde que se fez a reconquista deste canto da Península, e as nossas fronteiras, inalteráveis desde séculos, não foram fixadas a expensas de qualquer outra nação europeia. Subtrai-nos este facto às competições históricas das conquistas e desforras, permitindo se afirme mais pura a força moral da nossa independência e também da nossa expansão, desde que, firmada a base peninsular, passámos os mares para o alargamento do nosso domínio e manifestação mundial do nosso génio civilizador. Está aí, ingénua, natural, a substância deste nacionalismo, que tem de ser a alma da conservação, renascimento e progresso de Portugal.
» 
Extracto de um discurso de António de Oliveira Salazar, proferido a 30 de Julho de 1930.

domingo, 7 de novembro de 2010

Safim

«Os propósitos de D. Manuel são evidentes, inscritos que estivessem ou não numa lógica imperialista de largo escopo: o ataque ao Infiel em geral e ao reino de Fez em particular desenha-se pelo enredamento da capital numa teia de fortalezas espalhadas pela orla marítima, que para além disso pretendem controlar a navegação corsária e garantir o acesso a zonas de grande interesse económico para os Portugueses, como é o caso da região de Safim. (...)
Uma rede de fortalezas ao norte e outra a sul rodeiam à distância a capital do reino de Fez, como se disse, mas pelo meio abria-se um largo espaço vazio. É justamente aí, na foz do rio Cebu, que passa quase ao lado da cidade  e representaria o ponto mais próximo em poder dos Portugueses, que se pretende em 1515 erigir uma fortaleza, mas a expedição redunda num tremendo fracasso...
»
 Francisco Contente Domingues em Nova História Militar de Portugal vol. 2.

Uma representação antiga da praça-forte de Safim.

Tivesse a empresa portuguesa de 1515 tido um outro desfecho e talvez o futuro da História de Portugal, bem como da política de expansão e ocupação norte-africana, tivesse sido bem diferente. Um ataque mouro durante o período de baixa-mar, impedindo a deslocação das embarcações portuguesas conduziu-nos a uma pesada derrota, cujos efeitos se revelariam desastrosos ao predomínio português naquela região. Beneficiando da política interna de Marrocos, os mouros conseguiram conter o imputo conquistador dos portugueses, contribuindo em certa medida para a falência dos objectivos maiores da manutenção das nossas praças-fortes, ou seja, a criação de uma rede de defesa-ataque capaz de estrangular as comunicações entre os bastiões inimigos, assim como controlar o corso e pirataria praticado contra a costa e embarcações portuguesas. Gorados estes objectivos, as praças portuguesas acabariam rapidamente  por transformar-se em grandes sorvedouros de recursos humanos e financeiros.
Estas e outras razões, tais como o desenvolvimento militar dos norte-africanos, aliados ao crescimento de um mobilização generalizada de Jihad contra Portugal, levaram a uma alteração da política externa portuguesa quanto à manutenção dos seus territórios naquela região. O gradual abandono desses territórios, facto mais tarde encarado por D. Sebastião como um retrocesso do triunfo da Cristandade e do Império Português, levaria décadas depois à terrível e nefasta contenda de 4 de Agosto de 1578.
Safim foi oficialmente uma possessão da coroa portuguesa entre 1508 e 1541, apesar de já reconhecer Portugal como potência dominadora desde 1488. Não obstante o curto período de tempo em que a praça-forte esteve debaixo de domínio português, as marcas históricas são ainda hoje bastante consideráveis. Envolta por uma complexa cintura de muralhas com aproximadamente 3 km de extensão, Safim assumiu-se como um importante entreposto entre a costa atlântica e a cidade de Marráquexe. O projecto do complexo defensivo ficou a cargo dos distintos irmãos Diogo de Arruda e Francisco de Arruda, representando hoje um importantíssimo vestígio patrimonial e arquitectónico da presença portuguesa no além-mar. O baluarte circular, também conhecido por Castelo de Terra, constitui outra das importantes marcas da passagem dos portugueses por aquela cidade, bem como o Castelo do Mar, uma fortificação de apoio à defesa costeira, ou própria Catedral de Safim, hoje reconvertida em museu.

Fotografia do interior da Catedral Portuguesa de Safim.

Esta antiga praça portuguesa chamou-nos recentemente a atenção por duas razões distintas. A primeira prende-se com a abertura de uma rota área directa entre as cidades do Porto e Marráquexe, assegurada pela companhia aérea Ryanair, o que por certo facilitará a deslocação de todos os potenciais interessados em conhecer o património e legado português espalhado além-mar. A segunda advém da excelente notícia que nos foi avançada pela mais recente newsletter da Fundação Calouste Gulbenkian, dando conta da entrega do projecto final para a recuperação da Catedral de Safim e da sua envolvente histórica ao ministro da cultura de Marrocos. Recordamos que ao abrigo de uma convenção assinada em Abril de 2007, no âmbito da IX Cimeira Luso-Marroquina, a Gulbenkian ficaria responsável pela futura intervenção na catedral e zona envolvente, ficando a recuperação da área adjacente e respectivas infra-estruturas a cargo das autoridades marroquinas. Uma decisão final sobre o avanço deste projecto será dada pelo Governo de Marrocos, podendo desde já regozijar-nos pelo importante passo dado na direcção da defesa e salvaguarda deste importante património comum.

 
Safim, uma das Maravilhas de Portugal no Mundo.