sábado, 16 de abril de 2011

Cinema e Cinemas do Porto: o caso da Invicta Film

«Estávamos em Janeiro de 1913, no dia 16, um dia de Inverno rigoroso, e o 'Veronese' lutava contra as ondas na costa de Matosinhos. A forte agitação do mar e a força do vento empurravam o navio contra os penhascos da Praia da Boa Nova. Em terra iniciavam-se esforços para tentar salvar os passageiros e uma multidão curiosa e aterrada pela antevisão da tragédia ia-se acumulando na praia. Pertencente à companhia Lampord Holt Line, representada em Portugal pela firma Garland Laidiey, Lda., o 'Veronese' vinha de Liverpool, tinha feito escala em Vigo, onde embarcaram 100 passageiros, espanhóis, ingleses e alemães e ainda quatro portugueses. Quase todos eles tinham como destino portos do continente americano, nomeadamente do Brasil, Argentina e Venezuela. Ao tentar entrar em Leixões, o mau tempo e, sobretudo, a má iluminação daquele pedaço de costa portuguesa, conhecida no meio marítimo como a "dark land", levaram o barco contra os rochedos.»
Excerto de uma notícia publicada no Jornal da Região - Matosinhos.
Fotografia tirada em 1913 junto da ermida da Boa Nova, em Leça da Palmeira, aquando
do naufrágio do Varonese.
Acontecimento marcante para o concelho de Matosinhos, em particular na freguesia de Leça da Palmeira onde decorreu o acidente,  o naufrágio do Varonese fez história ao tornar-se num dos primeiros casos, senão o primeiro caso de um salvamento registado pelas câmaras de cinema. A transmissão das filmagens captadas pela histórica companhia cinematográfica portuense Invicta Film não foram naturalmente transmitidas em directo, dada essa impossibilidade técnica, ainda exclusiva da imaginação dos arautos da ficção científica, contudo, a sua reprodução haveria de conquistar as salas de cinema internacionais, rendidas ao pioneirismo daquelas imagens em movimento, representando um marco da história do cinema e um verdadeiro sucesso em termos de interesse e procura por parte de um público fiel à nova arte emergente.
Fundada em 1910 pelo produtor Alfredo Nunes de Matos, a Invicta Film constituiu mais um dos desconhecidos ou ignorados casos do pioneirismo português. Tendo iniciado as suas actividades através da produção de documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades várias, esta produtora cedo se associou àqueles que viriam a tornar-se os anos de ouro do cinema português, produzindo vários filmes de ficção, entre eles as adaptações cinematográficas de obras clássicas da literatura portuguesa, como é o caso de Os Fidalgos da Casa Mourisca, Amor de Perdição, O Primo Basílio, entre inúmeros outros.

Cartaz com várias produções da Invicta Film.

Tendo como objectivo a preservação da memória histórica desta importante produtora nacional, decorrerá esta tarde, pelas 17h, no auditório da FNAC do MAR Shopping, em Leça da Palmeira, uma apresentação a cargo de João Paulo Lopes, do Departamento Municipal de Arquivos da Câmara Municipal do Porto, subordinada à temática Cinema e Cinemas do Porto. Nesta comunicação serão abordados os primórdios da actividade cinematográfica portuense, com particular destaque o legado da Invicta Film.
A entrada é livre.

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