quarta-feira, 31 de agosto de 2011

110 anos de carro eléctrico em Lisboa

Foi na madrugada de 31 de Agosto de 1901, há precisamente 110 anos, que entrou em funcionamento a primeira linha de carros eléctricos de Lisboa. Servindo a zona ribeirinha da cidade, esta linha estendia-se entre o Cais do Sodré e Ribamar (Algés). Segundo os relatos da época, a inauguração desta linha de tracção eléctrica atraiu um vasto número de pessoas, curiosas em testemunhar este importante melhoramento da nossa capital e da sua rede de transportes públicos. O sucesso deste empreendimento foi tal, que se acabou por proceder à electrificação total das linhas até meados de 1905, levando ao desaparecimento naquela cidade dos célebres "americanos" de tracção animal. 
Aliando a elegância à comodidade oferecida pelo novo serviço aos passageiros, a introdução dos chamados eléctricos constituiu um importante factor de modernidade, moldando a própria imagem e alma da cidade, acabando por transformar-se num autêntico ex-líbris móvel da capital portuguesa, passando os velhos "amarelos" a figurar iconograficamente nos postais e fotografias responsáveis pela propaganda turística da cidade de Lisboa.
Atenta a esta efeméride, o motor de busca Google resolveu lembrar esta data, substituindo, durante o dia de hoje, a sua tradicional imagem por um doodle comemorativo do início de actividade deste célebre meio de transporte. 

Doodle evocativo do 110º aniversário do eléctrico lisboeta.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Revista Cultura Entre Culturas no programa Ler +, Ler Melhor

A revista Cultura Entre Culturas foi alvo de destaque no programa Ler +, Ler Melhor, transmitido no passado dia 24 de Agosto pela RTPN. Em entrevista, o seu director, Paulo Borges, e o director artístico, Luiz Pires dos Reys, apresentaram esta importante revista de cultura e pensamento, explicando as metas e objectivos deste projecto, fazendo uma retrospectiva dos seus três primeiros números, com destaque particular  para o último volume, dedicado a Fernando Pessoa, no 75º aniversário do seu falecimento.
Coube ainda nesta entrevista desvendar a temática do próximo número, dedicado ao encontro entre poesia e filosofia, destacando-se as justas homenagens a Cruzeiro Seixas, importante nome do surrealismo português, assim como ao conhecido poeta António Ramos Rosa. A não perder...

Cultura Entre Culturas no programa Ler +, Ler Melhor da RTPN.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

D. Aleixo Corte Real, um exemplo de fidelidade e patriotismo

«Resta-me citar os indígenas, quer chefes, quer simples habitantes da colónia, que, durante o período dos acontecimentos a que este relatório se refere, deram pelo seu procedimento para com a Pátria e para com os portugueses provas irrefutáveis da sua dedicação, da sua lealdade, do seu absoluto patriotismo.
Avulta entre eles, como estrela de primeira grandeza, o liurai de Ainaro, circunscrição do Suro, D. Aleixo Corte Real. Para esse tive já a honra de fazer uma proposta especial, relatando sucintamente o que foi a acção desse grande chefe e como se manifestou, em termos excepcionalmente vincados, o seu extraordinário patriotismo. E o Governo da Nação premiou já condignamente, com o grau de comendador da Ordem Militar de Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, esse grande português.»
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho em Relatório dos
Acontecimentos de Timor (1942-1945)
. 


Defendia e bem Teixeira de Pascoaes, em Arte de Ser Português, que a superioridade da raça não assenta em pressupostos biológicos, materialistas ou positivistas, mas sim num carácter puro, nobre e distinto, baseado na incorruptibilidade do espírito e de toda a essência metafísica do indivíduo. A Educação dos dias de hoje, bastante distinta daquela apregoada por Pascoaes em inícios do séc. XX, suprimiu por completo a noção de raça, desvirtuando e criminalizando o conceito, substituído pela vacuidade de um paradigma vazio, alheio a valores, identidades e princípios, alimentado pela adaptabilidade do ser humano, em jeito de darwinismo social, aos interesses da ordem vigente, mesmo quando esta desrespeita todos e quaisquer pressupostos éticos, culturais e até humanitários.
Talvez por esta razão, figuras como D. Aleixo Corte Real se tenham tornado tão incomodas e por isso remetidas para um confortável esquecimento. Contudo, a fidelidade e sacra memória que devemos aos nossos antepassados, faz-nos hoje invocar a lembrança deste grande herói português.
D. Aleixo Corte Real nasceu em 1886 na cidade de Ainaro, localizada e 78 km de Díli, capital do Timor Português. Inicialmente chamava-se Nai-Sesu, tendo adoptado o nome pelo qual ficaria conhecido apenas em 1931, ano em que se converteu ao catolicismo e foi baptizado.
A sua fidelidade à pátria-mãe cedo começou a expressar-se quando, entre 1911 e 1912, combateu ao lado dos portugueses na sublevação de Manufahi. O seu papel de régulo conferiu-lhe um importante estatuto em toda a região, sendo um importante embaixador de Portugal naquele território. Porém, não foi devido ao seu relevante papel  político-militar que o régulo timorense se destacou, mas sim pelo carácter e nobreza demonstrados ao revelar-se incorruptível aquando da invasão japonesa daquele território português, durante a II Guerra Mundial.
Apesar da neutralidade portuguesa, o território do Timor Português foi inicialmente invadido por um contingente holandês e australiano, com a desculpa de que Portugal não defendia aquele espaço, estando desse modo vulnerável a uma ocupação nipónica. Este facto acabou por verificar-se, provavelmente devido à invasão preventiva perpetrada pelas tropas australianas e holandesas. Durante aproximadamente três anos o terror espalhou-se naquela província ultramarina. Descontentes com a presença proselitista e declaradamente hostil do imperialismo japonês, a maioria da população timorense colocou-se do lado da resistência a estes invasores, apoiados também por uma pequena franja de milícias autóctones, designadas de Colunas Negras. D. Aleixo Corte Real foi, tal como o seu irmão, um dos líderes da resistência contra a ocupação nipónica, tendo acabado cercado e capturado em 1943 pelas tropas japonesas e membros dessas milícias pró-nipónicas.
Foi com sua captura e consequente sacrifício que o régulo alcançou a sua maior glória, mitificando-se, após enfrentar os seus algozes, negando-lhes a legitimidade sobre aquelas terra, depois de lhes negar a entrega da bandeira portuguesa. Este heróico e nobre acto custou-lhe a vida a si e à sua família que foi executada por um pelotão de fuzilamento japonês.
Mesmo destino teve o seu irmão e outros chefes locais que se uniram na defesa dos interesses das suas gentes e da sua pátria: Portugal. D. Aleixo Corte Real tornou-se rapidamente um símbolo do patriotismo nacional e da união entre os diversos povos portugueses. A sua honra e fidelidade foram justamente lembrados pelo Estado Português, tornado-se D. Aleixo Corte Real uma personificação da heroicidade e ferocidade da alma portuguesa, fiel de si mesma e absolutamente incorruptível... em qualquer circunstância!

Régulo D. Aleixo Corte Real junto da sua família. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Morigerar

Eis uma palavra cujo significado deveria ser reintroduzido, interiorizado, valorizado e vivido pela "moderna civilização".

Morigerar (v. tr. | v. pron.) do latim morigerari

v. tr.
1. Instruir nos bons costumes.
2. Fazer perder a natural rudeza de costumes.
3. Ensinar, educar.

v. pron.
4. Adquirir bons costumes.
5. Tornar-se ordeiro e prudente.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Retrospectiva da Arte Portuguesa do século XX (1910-1960)

«Na segunda década do nosso século, a arte portuguesa entrou subitamente em consonância com os movimentos de vanguarda europeus. A Exposição Livre (1911), os salões humoristas (desde 1912), a presença dos Delaunay em Portugal (1915-1917), as revistas Orpheu (1915) e Portugal Futurista (1917), a vinda dos bailados de Diaghilev (1917) e a experiência dos bailados portugueses (1918) são alguns dos acontecimentos que marcaram a acção dos modernistas num ambiente cultural dominado pelo gosto naturalista. De toda essa época ficaria apenas uma lenda, se não fosse a existência da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, apresentada em 1916 no Porto e em Lisboa. Almada Negreiros, Eduardo Viana e Santa-Rita foram os seus companheiros. Impressionismo, futurismo, cubismo, orfismo, abstraccionismo, "purismo", expressionismo e proto-dadaísmo constituíram os diversos aspectos das obras realizadas.»
Rui Mario Gonçalves em História de Arte em Portugal - Pioneiros da Modernidade.

Continua patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC), até ao próximo dia 5 de Outubro, a exposição temporária Arte Portuguesa do Século XX (1910-1960). Com uma curadoria de Adelaide Ginga, esta exposição faz uma retrospectiva histórica da criação artística em Portugal durante os primeiros sessenta anos do séc. XX, dividindo-se em cinco núcleos distintos: Frentes de vanguarda: de Paris a Lisboa; Almada Negreiros: dinâmica e volumetria; Neo-Realismo: lirismo e crítica; Surrealismo: poesia, onirismo e acaso; Abstracção: modulação e ritmo.
Com cerca de 100 obras em exposição, entre pinturas, desenhos, esculturas e fotografias, esta mostra conduz-nos desde os primeiros anos do séc. XX,  absolutamente indispensáveis a compreensão de todo o percurso da arte contemporânea portuguesa, com todos os seus pontos de ruptura e convergência com a tradição artística nacional, até à década de 1960. Organizada no âmbito das celebrações dos 100 anos do MNAC, esta exposição dá ainda a conhecer a todos os visitantes uma parte do importante acervo que esta instituição encerra, servindo assim para promover também um dos mais interessantes museus da capital portuguesa.
Aproveitamos por isso esta oportunidade para divulgar algumas das obras patentes nesta importante mostra que tão fortemente recomendamos visitar.

Cabeça, pintura da autoria de Amadeo de
Souza-Cardoso (c. 1913-1915).

A Sesta de José de Almada Negreiros (1939).

O Gadanheiro, uma pintura de Júlio Pomar (1945).

Adão e Eva, esculturas em terracota da autoria de Ernesto
Canto da Maia (1929-1939).

Eu, de Fernando Lemos (1949-1952).

Auto-retrato de Mário Eloy (1936).

Linhas incidentes, fotografia da autoria de Fernando
Taborda (1954).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

António Nobre fala ao Coração

António Nobre, nasceu a 16 de Agosto de 1867 e
faleceu a 18 de Março de 1900.

Fala ao Coração

Meu Coração, não batas, pára! 
Meu Coração, vai-te deitar! 
A nossa dor, bem sei é amara, 
A nossa dor, bem sei é amara:
Meu Coração, vamos sonhar... 
Ao mundo vim, mas enganado. 
Sinto-me farto de viver: 
Vi o que ele era, estou maçado, 
Vi o que ele era, estou maçado, 
Não batas mais! Vamos morrer... 
Bati à porta da Ventura 
Ninguém ma abriu, bati em vão: 
Vamos a ver se a sepultura, 
Vamos a ver se a sepultura, 
Nos faz o mesmo, Coração! 
Adeus Planeta! adeus ó Lama! 
Que ambos nós vais digerir. 
Meu Coração, a velha chama, 
Meu Coração, a velha chama: 
Basta, por Deus! vamos dormir...

António Nobre em .

domingo, 14 de agosto de 2011

Uma chula para o Condestável nos 626 anos da vitória de Aljubarrota

«Em Aljubarrota não havia melhoria do campo que os portugueses tivessem escolhido, nem vales que estorvassem seus contrários, como alguns mal escrevendo em seus livros querem contar, que tudo era campina igual, sem nenhum estorvo a ambos as partes.
E sendo a batalha cada vez maior e muito ferida de ambas as partes, prouve a Deus que a bandeira de Castela foi derrubada. Alguns castelãos começaram a voltar atrás. Os moços portugueses começaram a bradar em altas vozes:- Já fogem! Já fogem!E os castelãos, por não fazerem deles mentirosos, começaram vez de fugir mais.E porém tanta mortandade faziam neles os dos termo de Alcobaça e dos lugares em redor, especialmente nos que a pé fugiam, como os que morreram na batalha, privando-os de vida porque a nenhum perdoava a morte.Um rústico aldeão prendia e matava sete castelãos e oito e dez e não tinham poder de lho contradizer. E se algum trabalhava de dar a vida a alguém que conhecesse, quer fosse castelão ou português dos que contra o reino vinham, não o podia fazer que nas mãos lho matavam por força, ainda que não quisesse, não somente a homens de pequena condição mas a pessoas de boa conta.»
Fernão Lopes em Crónica de El-Rei D. João I.

Foi na tarde de 14 de Agosto de 1385 que se travou a célebre batalha de Aljubarrota. A importância de uma tão estrondosa vitória das hostes portuguesas conduziu praticamente de imediato à mitificação do feito e à santificação do seu principal arauto e responsável, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, que seria beatificado apenas em 23 de Janeiro de 1918 sendo, posteriormente, canonizado a 26 de Abril de 2009, passando a ser também conhecido por S. Nuno de Santa Maria.
Visto como a Estrela da Manhã, Nuno Álvares Pereira foi de facto um portador de Luz, iluminando e protegendo o caminho do Portugal futuro, a nascer da obra, força e têmpera do povo português. Adorado e amado pelo povo, foi em vida fiel a Deus, à Pátria e ao Rei. Regendo-se pelos códigos de cavalaria, manteve-se sempre pronto a ajudar o próximo, bem como a entregar o seu peito à armas inimigas, num caso claro de imensurável bravura, apenas superada pela sua bondade e fidelidade.
Numa data tão importante como esta de hoje, em que se assinalam os 626 anos de Aljubarrota, cabe-nos a nós recordar os verdadeiros heróis. Aqueles que pela paixão e pelo amor a um Deus, uma Pátria e um ideal, entregaram as suas vidas, vertendo o seu próprio sangue e suor, permitindo à História cantar ao sabor de todos os ventos o romance da nossa mais autêntica liberdade. Assim, em sinal de reconhecimento pelos feitos de um dos nossos maiores heróis, partilhamos hoje mais um tema do álbum Histórias de Portugal do grupo Maio Moço, intitulado Chula do Condestável. Com uma letra adaptada a partir de alguns textos do séc. XV, este tema recupera a chula, uma das danças mais antigas e representativas danças portuguesas, já referenciada pelo mestre Gil Vicente num dos seus famosos autos.
A D. Nuno Álvares Pereira e aos heróis de 1385. 


Chula do Condestável

Nosso grande Condestável,
Dom Nuno Álvares Pereira,
Defendeu a Portugal
Com seu pendão e bandeira

Levando a sua vanguarda
Nos campos de Aljubarrota,
Com sua cota e braçal
Os castelhanos derrota.

Perseguindo os inimigos,
Badajoz foi conquistar;
Entrando na sua torre
Seu pendão fez levantar.

E nos campos de Valverde
Os castelhanos venceu;
Com sua hoste e esquadrão
Portugal engrandeceu.

Nosso grande Condestável,
Dom Nuno Álvares Pereira,
Foi na batalha real 
A mais singular bandeira.

Capitão mui valoroso,
E por tal mui conhecido,
Foi sempre vitorioso,
Dos inimigos temido.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Em busca da arca perdida...

«Desaparecida desde 2008, quando foi vendida em leilão a um coleccionador privado, a Arca de Fernando Pessoa já conteve os seus 25,000 papéis, poesia, prosa e ensaios. Precisamos da sua ajuda para angariarmos 5,000 assinaturas que serão enviadas ao Secretário de Estado da Cultura de Portugal, para o convencer a encontrar a Arca e a colocá-a de seguida em exposição pública para que todos a possam admirar. (...)
Pensar-se-ia que uma arca feita de madeira não pudesse ter grande importância. Mas esta não é uma arca qualquer. Pessoa viveu em mais de 10 apartamentos diferentes em Lisboa, nos anos 30 e nunca deixou de levar a arca consigo. Ele mantinha a grande maioria dos seus papéis nela, desde livros inteiros a apontamentos e cópias de cartas que enviou. Ele era extremamente rigoroso com os seus papéis e mantinha-os quase todos - até pequenas notas nas costas de envelopes ou contas. Até uma nota para a sua empregada foi encontrada depois da sua morte. Como um símbolo, mesmo vazia, a arca representa toda a sua vida, porque a sua vida foi dedicada completamente à escrita, à sua 'Obra'.»
Nuno Hipólito sobre a Arca de Fernando Pessoa e o seu significado.  

(Clicar na imagem para aceder à página da petição.)

Cientes de que um povo sem memória é um povo sem história, não podíamos deixar de congratular o investigador de assuntos pessoanos Nuno Hipólito, autor do blog Um Fernando Pessoa, pela iniciativa patriótica de informar e sensibilizar os portugueses para triste situação que envolve o desaparecimento da tão famosa arca de Fernando Pessoa, vendida em leilão, pela sua família, a um desconhecido coleccionador do Norte do país em meados de 2008. A preocupação do autor da obra As Mensagens da Mensagem levou-o também à criação de uma petição internacional que se propõe reunir um mínimo de 5000 assinaturas, destinadas à actual Secretaria de Estado da Cultura, visando uma tomada de posição desta no sentido de localizar o paradeiro deste importante símbolo da cultura portuguesa, preparando a sua posterior compra pelo Estado Português.
Desde modo, é nosso dever publicitarmos esta petição, disponível em http://findthetrunk.com, convidando todos os interessados a assiná-la e promovê-la.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Apresentação do segundo volume da obra ChrónicAçores

É amanhã apresentada no Auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, pelas 21:30, a obra ChrónicAçores - Uma circum-navegação: De Timor a Macau, Austrália, Brasil, Bragança até aos Açores, da autoria de J. Chrys Christello. Editada pela Calendário das Letras, trata-se do segundo volume de uma trilogia que tem como fundo as demandas e aventuras portuguesas que por todo planeta deixaram, de uma forma singular e bem vincada, a presença da cultura lusíada.  
Esta apresentação, a cargo de Carla Cook, integra-se na  Festa do Livro da Horta, sendo a participação neste evento de acesso livre a todos os interessados.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Intolerância e intransigência na Europa segundo Rui Moreira

Rui Moreira, conhecido empresário e economista da região Norte de Portugal escreveu na sua crónica semanal, publicada no Jornal de Notícias, um interessante artigo de opinião onde aborda a cultura da velha Europa, os ataques à Igreja Católica, o perigo da adulação ao islamismo, a influência norte-americana e da sua cultura de decadência.
Intitulado A tolerância intransigente, este artigo contempla um problema crescente no seio da Europa, a que Portugal não está de modo algum imune, apesar de uma incredulidade quase infantil, alimentada por determinados sectores da nossa sociedade. Deste modo, apesar de não perfilharmos na totalidade a posição do cronista, achamos por bem partilhar neste espaço a sua interessante reflexão que, uma vez mais, tem como objecto de crítica um sistema democrático que nos foi imposto, baseado na velha máxima de dois pesos e duas medidas, dependendo de quem o apoia ou questiona.
Interessa uma vez mais deixar aqui bem expressa a nossa posição de respeito perante todas as outras culturas, com a devida ressalva de que nenhuma delas irá fazer-nos algum dia alterar, adulterar e castrar a nossa própria identidade ou tradição histórica e espiritual.

Rui Moreira.
«O islamismo não é um simples fundamentalismo religioso. É, sobretudo, um totalitarismo revolucionário subversivo, uma ideologia de destruição em massa comparável ao nazismo, ao maoísmo ou ao estalinismo.
A propósito da minha última crónica - e sem surpresa, porque o mesmo sucedeu aquando de uma crónica de 2006 em que abordava o mesmo tema - recebi uma missiva que me acusava de islamofobia. O certo é que não tenho nenhuma fobia contra o Islão, enquanto religião, ou contra os seus crentes. Se há coisa que me incomoda, neste tempo pós-moderno, é a intolerância contra as religiões, e a excessiva laicização da sociedade, que está na origem dos ataques injustificados à Igreja Católica e à sua hierarquia. 
Já tenho, contudo, uma fobia quanto à politização do Islão. Tenho medo do islamismo, e da sua influência crescente na Europa, tal como receio a politização do cristianismo, na moda entre os sectores mais conservadores dos Estados Unidos. Não me refiro, é claro, ao fanatismo terrorista. Essa é uma ameaça que todos reconhecem, que exige cuidados de outra natureza, e que preocupa a esmagadora maioria dos muçulmanos. Em França, por exemplo, a comunidade muçulmana reagiu em massa contra um grupo jihadista iraquiano que raptou dois jornalistas e ameaçava assassiná-los se a lei sobre a secularização das escolas não fosse alterada. A minha preocupação recai sobre o islamismo moderno, cuja influência é cada vez maior na Europa, e que tem sido tolerado sem que se compreenda a forte ameaça que ele significa e encerra. Para Eqbal Ahmad, o escritor paquistanês que se notabilizou pelas suas campanhas contra a política americana no Médio Oriente e pela sua cruzada contra o que chamava a maldição gémea do nacionalismo e do fanatismo religioso, o islamismo é uma deturpação do Islão cuja obsessão consiste em regulamentar de forma exaustiva o comportamento humano, reduzindo a ordem islâmica a um código penal, apresentando-se destituído do seu humanismo, da sua estética, da sua procura intelectual e da sua devoção espiritual. 
O islamismo não é um simples fundamentalismo religioso. É, sobretudo, um totalitarismo revolucionário subversivo, uma ideologia de destruição em massa comparável ao nazismo, ao maoísmo ou ao estalinismo. É essa, aliás, a razão pela qual goza de uma estranha protecção por parte da extrema-esquerda que, não partilhando da sua agenda moral, vê, nos islamistas os mais eficientes dos parceiros na luta contra o "imperialismo" e a "democracia burguesa". 
Ao contrário dos multiculturalistas, que pretendem construir uma sociedade em que se torna bastante a manutenção entre as pessoas de um consenso cultural mínimo, penso que a Europa deve efectivamente tolerar a diferença, mas deve ser intransigente na defesa dos seus princípios civilizacionais. São essas as preocupações de David Cameron, que ainda há meses reconhecia que a tolerância passiva, fomentada pelo multiculturalismo que tem influenciado as políticas no Reino Unido, é a semente da discórdia entre diferentes sectores da sociedade, tendo garantido que pretendia adoptar medidas de integração a que chamou de liberalismo musculado.
A Europa não pode, por um lado, assumir uma posição laica face às religiões tradicionais que influenciam a nossa cultura e ditam os nossos comportamentos e, por outro lado, e a pretexto do direito à diferença, permitir que os defensores do islamismo nos imponham as suas regras, e nos tentem obrigar a alterar os nossos hábitos. Enquanto europeus, e se pretendemos defender as nossas conquistas civilizacionais, não podemos ter dois pesos e duas medidas. Se proibimos o negacionismo do Holocausto, não podemos aceitar que ele seja propalado, sem quaisquer consequências, nas mesquitas de Bremen.
Timothy Garton Ash escreveu, a propósito da tragédia de Oslo, que "se é ridículo sugerir que não há uma conexão entre ideologia islâmica e terror islâmico, também é ridículo sugerir que não houve nenhuma conexão entre a visão alarmista da islamização da Europa e o que Breivik entendeu que estava fazendo". A meu ver, é igualmente ridículo sugerir que não há uma conexão entre a forma como os políticos europeus têm ignorado essa islamização e o reaparecimento de um sentimento xenófobo e nacionalista na Europa.»
Rui Moreira na edição de 7 de Agosto de 2011 do Jornal de Notícias.

sábado, 6 de agosto de 2011

Apresentação do Elmo de D. Sebastião

«Os últimos tempos ofereceram diversos sinais que, de certa forma, nos chamam a rever tudo o que se disse, escreveu ou alegou, acerca desta figura mítica e lendária, atacada e amada que tão profundamente se encontra ancorada na alma do Mundo Português. (...) Se o Elmo pudesse falar, o Portugal dos nossos netos não sucumbiria a estatísticas incolores, mas mostraria a sua presença de velas enfunadas, bem-vindas por todo o globo!»
Rainer Daehnhardt em Finis Mundi nº2.

Fotografia do elmo de D. Sebastião, recentemente regressado a Portugal.

Desde o seu recente regresso a Portugal, o elmo outrora pertencente ao rei D. Sebastião, supostamente usado pelo monarca na trágica batalha de Alcácer Quibir, tem vindo a despertar alguma curiosidade junto de alguns investigadores e um vasto número de curiosos. Assim, no seguimento da cobertura feita pela revista Finis Mundi, que dedicou o seu segundo número ao regresso deste objecto de valor histórico incalculável, eis que o recém constituído Núcleo de Amigos do Elmo de D. Sebastião resolveu organizar amanhã, dia 7 de Agosto, pelas 16:00, uma apresentação pública com o objectivo de partilhar este importante acontecimento com todos os portugueses e amantes de Portugal, promovendo também uma pequena exposição com outros objectos referentes ao rei português, tendo sido de igual modo preparando um conjunto de palestras subordinadas à temática em questão. Como oradores estarão presentes o embaixador Jorge Preto que falará acerca de D. Sebastião e o Mito Lusíada que ele inspirou; o Tenente-Coronel Brandão Ferreira que versará sobre A importância do reaparecimento do Elmo de D. Sebastião na nossa geração; e o coleccionista, especialista em armas antigas, Rainer Daehnhardt que presenteará os presentes com uma comunicação intitulada O regresso do Elmo e o que as "Feridas" nos contam.
Este encontro realizar-se-á na Quinta Wimmer, localizada na Estrada Nacional 117, ao km 10), em Belas, freguesia de Sintra. A entrada é livre.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Lembrar D. Sebastião nos 433 anos de Alcácer Quibir

«A Batalha de Alcácer Quibir teve lugar a 4 de Agosto de 1578. Após um período de desfecho incerto, o exército português e os seus auxiliares cristãos e marroquinos foram completamente derrotados. Na batalha morreram três reis e, por isso, é frequentemente designada por essa circunstância. D. Sebastião morreu em combate, Mulei Mohamede foi morto pelos seus adversários e Mulei Abdelmaleque (Mulei Maluco) faleceu de doença no final dos combates.A morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir constituiu o maior desastre da História de Portugal porque abriu o grave problema de sucessão ao trono e a consequente tomada do poder por parte de Filipe II de Espanha. A derrota traduziu-se na morte e cativeiro de muitos nobres e milhares de homens que permitiram durante muito tempo, ao novo sultão obter ricos resgates.»
António Dias Farinha em História da Expansão Portuguesa (Vol. 1).

Dom Sebastião de Carlos Barahona Possollo (1992).

Perfaz hoje 433 anos sobre o fatídico desaire militar de Alcácer Quibir. Na contenda desapareceu o rei menino, D. Sebastião, que tantos tinham como o Desejado. O seu cognome acompanhou-o desde a sua pré-concepção ao além-morte, tendo o seu nome dado lugar a umas das mais importantes expressões da espiritualidade portuguesa, o sebastianismo.
O desaparecimento físico do monarca português, retirou-o dos domínios da história, elevando-o ao plano do mito. Esta transformação alquímica do suposto mártir numa entidade mitológica processou-se no imaginário português de uma forma bastante rápida, integrando-se de imediato no imaginário espiritual nacional, lugar onde a "certeza" histórica dos homens de pouco vale.
Alcácer Quibir foi uma segunda vivência da Paixão. D. Sebastião perdeu-se num estranho labirinto enquanto as hostes portuguesas foram derrotadas, para que na sequência do fatalismo que se seguiu fosse possível viver a alvorada da esperança, no regresso de algo ainda maior e por viver, expresso num sentimento encerrado no coração de todos os portugueses - a saudade. 
Alcácer Quibir enquanto sacrifício cristológico é uma vitória, nunca uma derrota.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Património espiritual pátrio a saque

«Quando, ao lado da ponte ou da estrada que lançamos para comodidade dos povos, reparamos o castelo ou o monumento, reintegramos a pequena igreja secular ou o mosteiro abandonado, alguns não vêem que trabalhamos para manter a identidade do ser colectivo, reforçando a nossa personalidade nacional. É isso que fazemos.
Aquelas qualidades que se revelaram e fixaram e fazem de nós o que somos e não outros; aquela doçura de sentimentos, aquela modéstia, aquele espírito de humanidade, tão raro hoje no mundo; aquela parte de espiritualidade que, mau grado tudo que a combate inspira ainda a vida portuguesa; o ânimo sofredor; a valentia sem alardes; a facilidade de adaptação e ao mesmo tempo a capacidade de imprimir no meio exterior os traços do modo de ser próprio; o apreço dos valores morais; a fé no direito, na justiça, na igualdade dos homens e dos povos; tudo isso, que não é material nem lucrativo, constitui traços do carácter nacional. Se por outro lado contemplamos a História maravilhosa deste pequeno povo, quase tão pobre hoje como antes de descobrir o mundo; as pegadas que deixou pela terra de novo conquistada ou descoberta; a beleza dos monumentos que ergueu; a língua e literatura que criou; a vastidão dos domínios onde continua, com exemplar fidelidade à sua História e carácter, alta missão civilizadora - concluiremos que Portugal vale bem o orgulho de se ser português.
»
Dr. António de Oliveira Salazar numa comunicação em meados da década de 1940.

Igreja Românica de São Fins de Friestas.

As doutas palavras de António de Oliveira Salazar são hoje mais fortes e oportunas do que nunca. O retrocesso civilizacional resultante de um abastardamento cultural perpetrado oficialmente, de um modo terrorista, por um regime ilegítimo logo a partir de 25 de Abril de 1974, conduziu a um desastroso desenraizamento pátrio, assente no descrédito e achincalhamento da História Portuguesa, numa tentativa de vergar o forte carácter das nossas gentes, impedindo-as de viver segundo os seus valores e virtudes naturais.
Durante os tempos do chamado obscurantismo Estado Novista, promoveu-se a Educação, fomentou-se a Cultura, classificou-se, recuperou-se, protegeu-se e divulgou-se o património nacional. Até os mais pobres e analfabetos respeitavam orgulhosamente o legado dos seus antepassados, fosse o velho castelo edificado, as ruínas de um castro ou o monumento megalítico localizado no meio do terreno agrícola. Naquele tempo a pobreza material não era extensível à pobreza da alma. Foi com o advento da modernidade, acompanhado pela “democracia” do socialismo internacional que a pobreza se generalizou a todos os campos do ser, materiais e metafísicos.
A Educação sofreu pesados retrocessos, passando-se inclusivamente a encerrar escolas que, entretanto, se transformaram em meros centros de ocupação de tempos livres e de embrutecimento cognitivo e intelectual. A decadência e degeneração alastraram assim por toda a população em pouco mais de duas gerações, transformando Portugal num país de novos-ricos, admirados pelo que chega do estrangeiro, o que é moderno, e por tudo o resto que o dinheiro pode comprar. Este é hoje o paradigma que somos ensinados a reverenciar como um bem absoluto que nos foi concedido por um conjunto de nobres libertadores, leia-se oportunistas e mercenários culturicídas que já nem a língua pátria respeitam ou honram, estando dispostos a vender a própria mãe em troca de meia dúzia de tostões. 
Esta situação agrava-se numa época como a nossa, marcada por uma profunda crise económica que, directa ou indirectamente, coloca este paradigma consumista em risco. A hipertrofia mitológica e espiritual da (in)consciência pátria alastra-se ao campo dos valores e dos princípios normativos, arrastando-nos assim para o fundo do grande fosso da decadência, onde só os impuros e indignos gostam de chafurdar-se. 
A provar estas nossas palavras assistem-nos factos. De há uns anos a esta parte tem-se vindo a assistir em Portugal a um aumento exponencial de casos de roubo de património. Não querendo precisar nenhum caso de roubo quase institucional de peças portuguesas que são cedidas a exposições estrangeiras e que nunca mais voltam a ser devolvidas, ou outro qualquer tipo de furto mais obscuro, como é o caso da venda de socalcos do Douro vinhateiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, destinados a decorar quintas no Reino Unido, alertámos apenas para a existência de tristes situações como estas que apenas contribuem para o enriquecimento criminoso de quem atenta contra a nossa memória colectiva e tudo aquilo que fomos e somos, hipotecando o que estamos destinados a ser. 
O mais recente escândalo relativo a crimes de lesa pátria por atentados contra o nosso património veio do Norte do país, da pequena localidade de Sanfins, pertencente ao Concelho de Valença. Segundo uma notícia publicada na edição de hoje do Diário de Notícias, a Câmara Municipal de Valença conseguiu impedir atempadamente o roubo e a destruição parcial da fachada da igreja românica de São Fins de Friestas, após o rápido alerta da população local. Segundo o noticiado, algumas das colunas que sustentavam a fachada principal tinham já sido retiradas do monumento, encontrando-se prontas para serem transportadas para parte incerta. Classificada como monumento nacional desde 1910, a igreja de São Fins de Friestas representa um importantíssimo exemplar do românico minhoto, um testemunho impar do período gestativo da nacionalidade portuguesa. Integrada num enorme conjunto natural e arquitectónico de elevado interesse patrimonial e artístico, esta igreja pertencia a um importante mosteiro cuja construção terá iniciado no séc. XII, tendo sido concluída aproximadamente em 1221. A consumar-se este crime ter-se-ia perdido, irreversivelmente, um importante elemento histórico-patrimonial nacional, por isso, a autarquia local anunciou, entre outras medidas, a restrição do acesso de viaturas ao monumento. Contudo, medidas como esta não serão de todo suficientes para assegurar a integridade e preservação do monumento. Isolado de tudo, este poderá ser agora vítima de retaliações terroristas, sofrendo ataques destruidores semelhantes aos que algumas das gravuras de Foz Côa foram alvo há alguns meses atrás, com consequências e danos irreparáveis.
Primeiramente, é necessário repensar o ensino e a formação dos portugueses, reinvestindo forte numa Educação Pátria, assente nos valores e princípios fundamentais que norteiam e moldam a nossa memória colectiva, consciencializando-nos da nossa própria identidade. Seguidamente, é urgente alterar a legislação portuguesa, penalizando de forma dura e implacável todos os atentados contra o nosso património histórico e nacional. Deve-se ainda reforçar a promoção, salvaguarda e dignificação da nossa cultura patrimonial, tanto a material como a imaterial, reaproximando as pessoas daquilo que lhes pertence, ou mais importante do que isso, ao que elas próprias pertencem. A vigilância dos monumentos torna-se em períodos como este em que vivemos uma obrigação, um dever cívico e patriótico. Hoje não haverá uma Mocidade Portuguesa, ou uma Legião Portuguesa para formar a juventude, mas existe em seu lugar um sem número infindável de parasitas, afectos a um sistema que os alimenta através de Rendimentos Sociais de Inserção e outros subsídios promotores do ócio e de uma decadência interior que, mais cedo ou mais tarde, acaba por revelar-se também exterior. A estes sorvedouros, junta-se uma classe militar desocupada, constituída maioritariamente por mercenários gandulos, sem qualquer tipo de sentimento ou respeito pela carreira que abraçam. Deste modo, tanto as pessoas em situação de dependência económica do Estado, como as próprias Forças Armadas, deveriam contribuir para a sociedade que os sustenta, sendo a vigilância de proximidade dos monumentos e sítios históricos uma alternativa bastante plausível, um pouco como felizmente vai já acontecendo com os patrulhamentos das matas e florestas nacionais durante os períodos de maior incidência de incêndios. 
Importa voltar a lembrar que salvar Portugal significa alcançar a nossa derradeira salvação. 

Desenho da fachada da igreja de São Fins de Friestas.

Planta do complexo religioso de São Fins de Friestas.