quinta-feira, 29 de setembro de 2011

S. Miguel Arcanjo, padroeiro de Portugal

«Sabe-se que os Christãos dos primeiros tempos olhavam aquelle santo como um dos génios tutelares da medicina, e é pois natural que a designação de S. Miguel succedesse à de Endovellico.»
José Leite de Vasconcelos em Religiões da Lusitânia Vol. II

Arcanjo S. Miguel, escultura portuguesa
oriunda de uma oficina coimbrã do
séc. XV.

Reza a lenda que D. Afonso Henriques, antes de defrontar os infiéis em terras escalabitanas, durante o ano de 1147, terá invocado a divina protecção e auxílio de S. Miguel Arcanjo que, respondendo às preces do monarca português, fez descer dos céus o seu punho alado, derrotando as forças sarracenas. Segundo a tradição, D. Afonso Henriques, como forma de agradecimento pela intercessão divina do Celestial Condestável, consagrou-lhe o seu jovem reino, confiando-lhe a sua protecção.
A devoção do primeiro rei de Portugal pelo Arcanjo S. Miguel ser-lhe-ia tal que o teria levado à criação da lendária Ordem Equestre e Militar de São Miguel da Ala, também conhecida por Ordem de São Miguel da Ala, Real Ordem de São Miguel da Ala, ou Ordem da Ala, mais tarde reactivada ou recriada pelos partidários do rei D. Miguel. Polémicas aparte, é hoje tomado como certo que o Arcanjo S. Miguel terá sido o primeiro padroeiro de Portugal, até que durante o reinado de D. João I, por influência do seu casamento com D. Filipa de Lencastre, se adoptou S. Jorge como orago nacional. Só após a Restauração de 1640, a Dinastia de Bragança decidiu coroar a Nossa Senhora da Conceição como rainha e patrona de Portugal, afastando-se desta forma a hipótese de regressarmos ao patronato do nosso primordial protector. 
Celebrado liturgicamente a 29 de Setembro, S. Miguel Arcanjo é venerado pelas três religiões do livro, judaísmo, cristianismo e islamismo, estando o seu culto largamente disseminado na Europa, onde encontramos o seu caminho geográfico-esotérico que liga em linha recta o santuário do Mont Saint-Michel (Norte de França), à Sacra di San Michele (Norte de Itália) e às grutas de S. Michele de Gargano (Sul de Itália). Contudo, é em Portugal que o culto a S. Miguel Arcanjo nos surge aparentemente mais enraizado, fruto de uma ligação ancestral de origem pré-cristã.
Ora, conforme é sobejamente sabido e discutido, Portugal é um dos locais na Europa onde a religiosidade é transcendentalmente vivida de uma forma bastante heterodoxa e espiritual, encerrando em si os mistérios esquecidos de um imaginário divino, albergado num inconsciente colectivo herdado numa época ou tempo histórico pré-fundação. Assim, é com alguma naturalidade que assistimos a uma harmónica simbiose entre o paganismo e o cristianismo que aqui soube adaptar-se ao cultos ancestrais das nossas gentes. Esta é no fundo a perspectiva defendida nos estudos seminais de José Leite de Vasconcelos em obras como Religiões da Lusitânia, onde o autor avançava com a possibilidade de Endovélico, principal divindade do panteão lusitano, ter adoptado a forma de S. Miguel, face à impossibilidade deste poder ser reconvertido no Deus cristão. 
Baseado nesta interpretação, poderemos encontrar um estreito diálogo político-cultural de carácter trans-religioso entre o pré-Portugal e Portugal, permitindo-nos conhecer um pouco melhor as nossas raízes e matrizes filosófico-culturais e histórico-espirituais. É por isso importante sabermos distinguir, interpretar e preservar os símbolos da nossa cultura, pois estes formam no seu conjunto a linguagem das nossas verdades superiores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nova Águia n.º 8

Foi já oficialmente anunciado o índice do próximo número da revista Nova Águia. Este oitavo número apresenta como tema principal O Pensamento da Cultura de Língua Portuguesa, prestando uma merecia homenagem a dois importantes vultos do pensamento português, nomeadamente, Álvaro Ribeiro, nos 30 anos da sua morte, e José Marinho, nos 50 anos da sua Teoria do Ser e da Verdade.
Entre as habituais contribuições que, periodicamente, alimentam a discussão e polémica nas páginas desta revista, fazemos o especial destaque para as colaborações de Pinharanda Gomes, Costa Macedo, Adriano Moreira, Manuel J. Gandra e ainda António José de Brito que faz aqui o seu regresso. Um número a não perder! 

(Clicar na capa para ampliar.)

Lista de conteúdos e colaboradores

Nos 30 anos da morte de Álvaro Ribeiro

Carta a António Quadros
- Álvaro Ribeiro
Álvaro Ribeiro em 10 instantâneos
- Azinhal Abelho, Orlando Vitorino, António Quadros, António Cândido Franco, Pinharanda Gomes, Miguel Real, António Braz Teixeira, António Telmo, André Veríssimo e José Augusto Seabra
Álvaro Ribeiro num relance de luz
- António Cândido Franco
Exilado do mundo
- António Carlos Carvalho, Exilado Do Mundo
O que é a Escola Formal
- Artur Manso
Uma Filosofia do Modo
- Carlos Aurélio
A actividade de Deus
- Cynthia Taveira
Álvaro Ribeiro e a Filosofia Política
- Elísio Gala
Um colóquio agora mais útil & carta inédita de Álvaro Ribeiro à viúva De Delfim Santos
- Filipe Delfim Santos
Erudição Filosófica
- Joaquim Domingues
Filosofia E Situação
- José da Costa Macedo
A Língua Portuguesa e o destino de Portugal
- Manuel Ferreira Patrício
A questão da Universalidade da Filosofia
- Maria Leonor L.O. Xavier
Conceito e controvérsia da Filosofia Portuguesa: O apostolado de Álvaro Ribeiro
- Maria Luísa De Castro Soares
Filosofia Portuguesa Em Álvaro Ribeiro
- Paulo Jorge Brito e Abreu
História e Epopeia: Álvaro Ribeiro, Jaime Cortesão e a Renascença Portuguesa
- Pedro Martins, Pátria,
Álvaro Ribeiro, Filosofia Operativa e Oração Mental
- Pedro Sinde
A razão rítmica (no pensamento de Álvaro Ribeiro)
- Rodrigo Sobral Cunha
Álvaro Ribeiro (1905-1981): A filosofia como arte & aditamento bibliográfico
- Pinharanda Gomes

Sobre José Marinho: Nos 50 anos da Teoria do Ser e da Verdade

José Marinho, um filósofo metafísico e, por isso, situado
- Renato Epifânio
A tertúlia de Álvaro Ribeiro e de José Marinho
- Pinharanda Gomes
A Filosofia da História em Oliveira Martins a partir de uma leitura de José Marinho
- Manuela Brito Martins,

Sobre Álvaro Cunqueiro, Joaquim Nabuco e Domingos Gonçalves de Magalhães

Álvaro Cunqueiro, Cem Anos Depois
- Maria Seoane Dovigo
Joaquim Nabuco: Um Brasileiro Europeu
- João Bigotte Chorão
Nos duzentos anos de Domingos Gonçalves de Magalhães
- António Braz Teixeira

Ainda sobre Fernando Pessoa

Transpersonas na esfinge de Fernando Pessoa
- Giancarlo de Aguiar
Pessoa: Uma Singular Pluralidade
- Ruben David Azevedo
Fernando Pessoa e a estética da Renascença Portuguesa: D’a Águia À Orpheu
- Samuel Dimas
Fernando Pessoa sob o signo da Pátria da Língua
António Cândido Franco
Pascoaes e Pessoa
- Maria Clara Tavares
Pessoa: A Escrita a a terra de ninguém
- Luís Tavares
Pessoa no Japão
- Kazufumi Watanabe

Ainda nos 15 anos Da CPLP: Trajectos Lusófonos

As culturas dos povos do Mediterrâneo
- Adriano Moreira
Rumar Portugal, considerar a Europa, pensar a Lusofonia
- António José Borges
Deambulações Literárias
- Delmar Maia Gonçalves
Portugal, a Europa e as margens da Filosofia (com carta de Joaquim Domingues)
- Dirk Hennrich
17 Gedankenexperimente
- João Pereira de Matos
Presente e futuro da língua portuguesa num quadro estratégico global
- Joaquim Miguel Patrício
A filogonia do pensamento da Cultura de Língua Portuguesa
- Lúcia Helena Alves de Sá
O futuro da Lusofonia
- Miguel Real
Língua Mãe Língua Filha
- Nelson Goulart
A dinâmica histórica do conceito de Lusofonia (1653-2011)
- Nuno Sotto Mayor Ferrão
Viagem à Guiné-Bissau
- Rui Martins
Do coração da cooperação à avaliação da Acção: CPLP ontem, hoje e amanhã
- Sam Cyrous
A energueia das línguas africanas
- Simion Doru Cristea
Discurso da Academia
- Ximenes Belo

Rubricas

Entrecampos, de J. Pinharanda Gomes
As Ideias Portuguesas de George Till, de Jorge Telles De Menezes
Do Espírito dos Lugares, de Manuel J. Gandra
Literatura oral e tradicional, de Ana Paula Guimarães

Bibliáguio

Diálogos de Amor de Leão Hebreu
- Celeste Natário
Memorial do Convento de José Saramago
- Gabriela Lança
Levante, 1487 – A vã glória e João Álvares
- José Maria Pimentel
Últimas obras da colecção Nova Águia
- Renato Epifânio

Extravoo

Apontamento quási superficial sobre ética
- António José de Brito
Aristipo de Cirene: Um filósofo nas margens da história
- António Monteiro

Poemáguio

Álvaro Ribeiro; um velho profeta
- Eduardo Aroso
Viagem
- António José Queiroz
Cálice; Da Terra; Mausoléu
- Teresa Dugos
Da Panaceia
- Manuel Neto dos Santos
Sete premissas para a liberdade
- Maurícia Teles Da Silva
Resiliência
- António José Borges
Fosse o dia já noite
- Maria Luísa Francisco
Identidade e conflito
- Fernando Esteves Pinto

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os extremismos políticos de direita: entre a tradição e a renovação

Depois de ter organizado, há quase um ano, o seminário Ideias e percursos das direitas portuguesas, o investigador italiano Riccardo Marchi (ICS/UL), autor de Folhas Ultras - As ideias da direita radical Portuguesa (1939-1950) e Império, Nação, Revolução, preparou agora, juntamente com os investigadores Fábio Chang de Almeida (UFRGS/ICS-UL) e Lendro Pereira Gonçalves (PUC-SP/ICS-UL), um colóquio internacional subordinado ao tema Os extremismos políticos de direita: entre a tradição e a renovação.
Este encontro realizar-se-á durante durante os próximos dias 29 e 30 de Setembro, em Lisboa, nas instalações do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
A entrada é livre.

(Clicar na imagem para aceder ao programa.)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A mulher e a mentira

Figura tradicional da autoria de Bordalo Pinheiro.

A mulher e a mentira
São dois amantes leais.
Se a mentira é mentirosa,
A mulher é munto mais!

Assim que a casa chegar,
Fazem queixas ao marido:
Tenho o meu corpo dorido,
E é de tanto trabalhar!

Começa o homem a intrujar,
Com palabrinhas tais,
Que o homem acardita a queixa.
A mentira nunca a deixa, 
São dois amantes leais.

A mulher q'ando se lebanta,
bai logo co'a manha fisgada.
Trata logo dum-a torrada
Assim que ó lume s'assenta.

Nunca almoça, nunca janta,
É isso que me admira!
A falar ninguém as bira,
A um-a só'lheira sentada.
Está muito bem comparada,
A mulher e a mentira!

Fazem grandes fritangadas, 
E tigelas de café,
E dizem aos filhos:
- Comer e boca calada,
Ao pai nunca se diz nada...

Assim faz quem é gulosa.
Há muita mulher bondosa,
Num há regra sem excepção,
Mas à mentira todos bão.
Se a mentira é mentirosa.

Têm «muntas» por costume,
Como há pouco eu as oubi dezer:
- 'Inda hoje num comi,
Só se foi brasas de lume,
Essas são as princepais!
Já num aguento os cabedais!
Bá lá mais uma rapésada...
Se a mentira é confiada,
A mulher é munto mais.

Recolha feita por Isabel Silvestre, publicada em Memória de um Povo.

domingo, 25 de setembro de 2011

Um olhar sobre as origens históricas do Sebastianismo

A obra Origens do Sebastianismo, de António Costa Lobo, apesar de originalmente publicada em 1909, continua a ocupar um papel de relevo na bibliografia sebástica e sebastianista. Analisando as raízes históricas e materiais de um dos principais aspectos moldadores da personalidade espiritual portuguesa, este livro foi agora reeditado pela Texto Editora, numa edição antecedida por um interessante e enriquecedor prefácio de Eduardo Lourenço.
A referência a esta importante edição que, voltou a colocar o texto de António Costa Lobo à disposição de todos os interessados pela temática do sebastianismo, há muito merecia a nossa atenção, apesar dos consecutivos adiamentos perante a publicação de uma qualquer nota sobre este lançamento. Aproveitamos por isso a oportunidade de partilhar um pequeno mas curioso apontamento de José Almeida, publicado no seminário O Diabo do passado dia 6 de Setembro, sobre esta nova edição de Origens do Sebastianismo.   

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Lugares Inesquecíveis de Portugal

«O ser humano tem essencialmente duas formas estruturais de pensamento, o pensamento-racional-por-conceitos e o pensamento-por-imagens. A primeira forma está relacionada com a mente conceptual, analítica, com o que vulgarmente denominamos por razão, e utiliza o neocórtex do cérebro como veículo no corpo físico. A segunda forma está relacionada com o pensamento simbólico, com a imaginação, a analogia e a teoria das correspondências, e utiliza como veículo o sistema límbico do cérebro.
Desde há séculos,, a educação tem primado por desenvolver a mente conceptual, racional, e tem atrofiado a mente intuitiva e simbólica.»
Paulo Alexandre Loução em Lugares Mágicos de Portugal e Espanha.

Capa da obra Lugares Inesquecíveis de Portugal, da autoria
de Paulo Alexandre Loução.

É numa tentativa clara de procurar reverter a situação descrita no excerto supracitado, retirado da obra Lugares Mágicos de Portugal e Espanha, organizada por Paulo Alexandre Loução, que o também autor procura, à imagem do que fez o célebre Grupo Eranos, encetar um certo reencantamento do mundo, tentando neste caso uma clara convergência com a própria tradição portuguesa. 
Assim, o mais recente livro do autor da tetralogia Portugal Esotérico, intitulado Lugares Inesquecíveis de Portugal, procura traçar um roteiro mítico-simbólico por um Portugal que aguarda a redescoberta pelas suas próprias gentes, levando-as, em cada um dos lugares apresentados, à sua própria auto-descoberta, tanto histórica e cultural, como espiritual.
Editada pela chancela da Eranos, uma jovem editora que se pauta pela divulgação e criação de conteúdos, actividades culturais e turísticas, esta obra será hoje apresentada na cidade do Porto, pelas 21:30, nas instalações da Nova Acrópole. A apresentação estará a cargo do escritor e autarca Alberto S. Santos, contando-se também com a presença do autor Paulo Alexandre Loução. A entrada é livre.

Apresentação da obra Lugares Inesquecíveis de Portugal no
programa Cartaz das Artes da TVI.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Aproxima-se o lançamento do 3.º número da Finis Mundi

Conforme tem vindo a ser usual neste espaço, voltamos a divulgar a capa e o índice de mais um número da revista de cultura e pensamento Finis Mundi que, em breve, chegará às melhores livrarias. 
Destacam-se neste número as participações de António Marques Bessa, Humberto Nuno de Oliveira, José Almeida, Luís Couto, Sandra Balão, Sónia Pedro Sebastião, Renato Epifânio, entre outros autores nacionais, assim como os estrangeiros Alain de Benoist, Christian Bouchet, Tiberio Graziani, Leonid Savin, Aleksandr Kuznetsov e Jack Soifer. 
Para adquirir a Finis Mundi, ou obter mais informações sobre esta publicação trimestral, basta contactar a Antagonista, editora responsável por este projecto.

Capa do terceiro número da revista Finis Mundi.

Lista de conteúdos e colaboradores

GEOPOLÍTICA:
As Grandes linhas da Política Externa Portuguesa nos últimos anos
- António Marques Bessa
Interesse público nacional e poder político supranacional. Da Utopia à Distopia
- Sandra Balão
Os Estados Unidos, a Turquia e a crise do sistema ocidental 
- Tiberio Graziani
O pensamento estratégico russo, um encontro com Jean Gerónimo
- Christian Bouchet

ACTUALIDADE:
Portugal, uma análise do poder
- João Franco
Portugal = Lixo: o porquê de serem excelentes notícias
- João Branco Martins
Cerco a Portugal
- Rui Martins
Vírus da República
- Artur de Oliveira
Os vorazes
- Henrique Salles da Fonseca
Transportes para sair da crise
- Jack Soifer
Para a constituição da “Plataforma Cidadania, Ecologia e Lusofonia”
- Renato Epifânio
O que não nos contam sobre o massacre na Noruega
- Basílio Martins
SIS – Não há “secreta” em Portugal
- Frederico Duarte Carvalho
ONU, direitos humanos e sinais de perigo
- Manuel Brás
A Pobreza das Nações e a Riqueza das Corporações
- Luís Couto
O direito de voto e a política contemporânea
- João Oliveira Duarte

ANTROPOLOGIA:
O Animal Homem, ou Revisitando a Antropologia
- Humberto Nuno de Oliveira
Uma visão antropológica sobre a imagem do Zé Povinho
- Florbela L.S. Gomes

RESENHA: 
Faces of Death 
- Rui Baptista
Shogun's Sadim 
- Rui Baptista
Uma Análise Diferenciada: “Abdicação”, de Fernando Pessoa 
- Carlos F. Menz

BIOGRAFIA & BIBLIOGRAFIA:
D. Fortunato de S. Boaventura, Vulto do pensamento contra-revolucionário português do século XIX
- Nuno Morgado
Um Mestre da Contra-Revolução, D. Francisco Alexandre Lobo 
- Mário Casa Nova Martins
A Águia e a Renascença Portuguesa - Mito, Educação e Espaço-Público 
José António Miranda Moreira de Almeida
Nos 80 anos dos primeiros escritos sobre versificação, A Teoria do Ritmo Verbal na obra de Amorim de Carvalho, Bibliografia Crítica precedida de uma síntese biográfica
- Júlio Amorim de Carvalho

DIÁRIOS DE VIAGEM: 
Líbia, infra-estruturas civis sob ataque e a implacável guerra informativa
- Leonid Savin
Diário de uma temporada na Síria 
- Christian Bouchet

TRADIÇÃO: 
A Oriente: o Reino do Preste João 
- Sónia Pedro Sebastião
A construção do monoteísmo africano: Mawu e Olódùmarè 
- João Ferreira Dias 

MUNDO: 
O que significa ser cidadão de uma verdadeira social-democracia 
- Pedro Cotrim 
Reflexões sobre a pós-democracia 
- Alberto Buela
Pais e filhos da Revolução Islâmica O clero iraniano opõe-se à ameaça de perda de poder 
- Aleksandr Kuznetsov
O ano 2012 será terrível! Dívida pública: como os Estados se tornaram prisioneiros dos bancos 
- Alain de Benoist

terça-feira, 20 de setembro de 2011

735 anos da entronização de Pedro Hispano Portucalense como Papa João XXI

«A luz divina é a claridade do conhecimento divino. A noite divina é incompreensibilidade desse conhecimento, e quando ela se percebe, fica-se a conhecer Deus. Descobre-se essa incompreensibilidade pelo acaso das luzes, isto é, pela superação de todos os sentidos e forças mentais. Consumada essa superação, o próprio conhecimento fica obscurecido, porque progride para a superabundância de um maior conhecimento. A extensão do verbo vocal ou mental fica reduzida à simplicidade do Verbo eterno. Aí, realiza-se também a deificação, isto é, a transmutação do humano no divino. E aquilo que é desconhecido pela indagação da razão e da operação intelectual mais desconhecido se torna pela superabundância da união. De tal modo, porém, que semelhante desconhecimento é a ciência suprema para homem peregrinante.»
Pedro Hispano em Exposição sobre a Teologia Mística.

Pedro Hispano ou Pedro Julião, mais tarde Papa
João XXI.

Celebram-se hoje os 735 anos da entronização de Pedro Hispano como Papa, adoptando o nome de João XXI. Apesar do seu curto pontificado, de apenas oito meses, entre 20 de Setembro de 1276 e 16 de Maio de 1277, data da sua morte, Pedro Hispano deixou uma profunda marca na Igreja e no pensamento ocidental.
Nascido na cidade de Lisboa em meados de 1205, filho do médico Julião Rebelo e Teresa Gil, recebeu no baptismo o nome de Pedro Julião. O seu percurso foi iniciado na sua cidade natal, onde começou a desenvolver os seus estudos na Escola Episcopal da Catedral de Lisboa, antes de partir para França, onde conviveu com S. Tomás de Aquino e S. Boaventura, sendo também aluno de S. Alberto Magno. Aí, desenvolveu os seus conhecimentos em medicina e teologia, tendo tratado com bastante cuidado a questão dialéctica, lógica, física e metafísica, especializando-se no pensamento aristotélico.
A forma como se destacou entre alguns dos maiores mestres do seu tempo levou-o até Siena, em Itália, onde começou a leccionar medicina na universidade local. A sua profícua actividade intelectual materializou-se na importante bibliografia que legou à cultura ocidental e mundial. Entre algumas das suas principais obras podemos encontrar, numa perspectiva mais teológica e filosófica, os seus Comentários ao pseudo-DionísioSummulæ Logicales, ou Scientia libri de anima, bem como, na área da medicina, o Thesaurus Pauperum ou o famoso tratado de medicina oftalmológica De Oculo.
A sua importância nos domínios da medicina levou o Papa Gregório X, que havia já presidido ao Segundo Concílio de Lyon, no qual participou também Pedro Hispano, a requisitar os seus serviços nomeando-o seu médico pessoal, permitindo-lhe aproximar ainda mais do papado. A sua crescente influência acabou por o conduzir ao trono de S. Pedro, tornando-se no 188º Papa, sob o nome de João XXI, eleito em conclave na cidade italiana de Viterbo, durante um período particularmente conturbado e violento no seio da Igreja Católica.
O seu interesse pela mística, a alma e as suas paixões, reflectiu-se tanto na sua vivência espiritual, como a direcção tomada pelo seu pontificado, procurando reaproximar a Igreja Católica da Igreja Ortodoxa, unindo desta forma o Ocidente ao Oriente. Politicamente, esforçou-se para pacificar os reinos cristãos em guerra entre si, bem como libertar a Terra Santa, controlada por forças muçulmanas.
Infelizmente, o seu curto pontificado chegou ao fim, aproximadamente, seis meses após ter começado. Não obstante, para a História ficou a memória e a obra de um mestre pensador, filósofo, clérigo universal e médico de referência. Um homem de mística e metafísica que se tornou também um vulto das ciências e das humanidades.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

I Congresso Internacional da Rota do Românico

«O valor catequético da arte românica, que procurava através de formas mimetizadas e estilizadas educar a comunidade local e paroquial, para a vida em sociedade, baseada nas sagradas escrituras, usos e bons costumes, continua hoje bastante latente nas pedras que encarnam as gentes que outrora, pela sua simples existência, nos tornaram naquilo que efectivamente somos.»
José Almeida em AENIMA XXI - Festival Interarte do Vale do Sousa.
«O Turismo e a Cultura deverão unir-se em torno de um objectivo comum: a fruição dos espaços e a divulgação da cultura. De facto, o turismo é uma vivência cultural, é o marco principal do produto que alavanca a deslocação das pessoas, sendo que toda a deslocação turística tem uma implicação cultural: sem a cultura não se explica o turismo. Como valor para a cultura, o turismo gera recursos para a sua conservação e beneficia as comunidades receptoras, motiva-as para a gestão do seu património e cria consciência de valor  dos diferentes patrimónios locais entre os turistas.»
Joana Neves em Jornal Publituris (ed. 1 de Janeiro de 2004)

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A Rota do Românico organiza durante os próximos dias 28, 29 e 30 de Setembro o I Congresso Internacional da Rota do Românico. Promovendo o diálogo entre cultura, lazer e economia, este será um momento de reflexão por excelência, dedicado ao património e ao seu papel no desenvolvimento dos territórios.
A participação neste importante congresso interdisciplinar é livre, estando no entanto sujeita a uma inscrição prévia, passível de realizar online até ao próximo dia 15 de Setembro. As conferências terão lugar no Auditório Municipal de Lousada, sendo que haverá ainda lugar para algumas visitas aos locais integrantes da Rota do Românico.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O aborto ortográfico segundo Humberto Nuno de Oliveira

Não obstante o facto do artigo de opinião do Humberto Nuno de Oliveira, publicado no passado dia 6 de Setembro, na sua rubrica semanal Da Trincheira, no semanário O Diabo, figurar ao lado da entrevista ao linguista António Emiliano, partilhada neste espaço durante o dia de ontem, pareceu-nos pertinente, pelo seu conteúdo, dar-lhe também o devido destaque. 

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domingo, 11 de setembro de 2011

Devemos desobedecer ao Acordo Ortográfico

Num mundo de compadrio, interesses e oportunismos, os princípios e as verdadeiras causas são geralmente vítimas de deturpação e manipulação, relegados para segundo ou terceiro plano por força dos poderes instituídos. Felizmente, existem ainda algumas pessoas capazes de revelar bravura e carácter, lutando contra uma vaga de permissividade demonstrada pelas massas democráticas cada vez que alguém, ou alguma coisa, nos procura amputar violentamente um pedaço da nossa soberania, identidade, memória ou cultura.
Na edição da passada Terça-Feira, dia 6 de Setembro, do semanário O Diabo, foi apresentado um especial de duas páginas dedicado à questão do malfadado (des)acordo ortográfico, com uma entrevista de leitura obrigatória ao distinto linguista António Emiliano, uma das figuras de proa na luta pela defesa da Língua Portuguesa. Preparada e conduzida pelo próprio director do jornal, Duarte Branquinho, nosso amigo e camarada de luta em áreas da cultura e identidade portuguesa, esta entrevista foca uma vez mais alguns dos pontos mais gritantes do silencioso genocídio cultural perpetrado pelo criminoso (des)acordo ortográfico.
Assim, pela sua importância, somos obrigados a partilhar neste espaço a referida entrevista a António Emiliano, na esperança de alertar uma vez mais todos os portugueses para os perigosos dias em que vivemos.   

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Os Hospitalários no Caminho de Santiago (edição de 2011)

O Mosteiro de Leça do Balio representa um dos mais interessantes exemplos da arquitectura religiosa-militar portuguesa. Tendo já passado mais 1000 anos desde o início da sua história, este edifício foi não só um importante local de passagem de peregrinos, dada a sua localização no Caminho de Santiago, como também o palco principal de múltiplos episódios da História Nacional e Mundial.
Tendo sido alvo de sucessivas modificações, resultando ora em melhoramentos, ora em algumas adulterações e destruições patrimoniais, este espaço conserva ainda hoje uma importante carga espiritual, transmitida aos menos esclarecidos através da sua monumentalidade e enquadramento cenográfico.
Desde há uns anos a esta parte, a Câmara Municipal de Matosinhos, ciente do potencial cultural, turístico e económico deste conjunto arquitectónico e respectivo espaço envolvente, passou a organizar um evento intitulado Os Hospitalários no Caminho de Santiago, capaz de fomentar uma salutar união entre a cultura e o lazer. Com uma enorme variedade de oferta, entre reconstituições históricas, conferências, visitas guiadas, artesanato, restauração, comércio, música, teatro e animações várias, esta feira medieval distingue-se positivamente de tantos outros eventos da sua categoria, tanto pelo rigor, como pelo equilíbrio e qualidade das ofertas que oferece a todos os seus visitantes.
Criada a uma escala humana, longe da megalomania e massificação descontextualizada de outras feiras medievais espalhadas pelo país, a de Leça do Balio decorrerá este ano entre os dias 8 e 11 de Setembro de 2011, mantendo-se franca, não obstante o sucesso das anteriores edições. Este é um evento recomendado a todas as famílias.

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Arte Românica em Portugal

«Por oposição à grande diversidade de formas e influências em toda a arte da Alta Idade Média - da assumida procura do classicismo da arte carolíngia às influências arabizantes da arte moçárabe, passando pelas misturas de linguagens eruditas e vernaculares (de origem germânica) na arte merovíngia ou visigótica (onde as influências orientais, por via pérsica ou copta, também se fazem sentir) - o românico assume-se como o primeiro estilo verdadeiramente europeu, unificando artisticamente o espaço da Cristandade e construindo, pela primeira vez desde a queda do Império Romano do Ocidente, uma imagem artística coerente numa vasta área geográfica que, tendo como centro o reino dos Francos, se expandia para Ocidente (Península Ibérica), Norte (Ilhas Britânicas), Oriente (da Alemanha à Polónia, Hungria ou Arménia, com implantação desigual e dependendo do avanço dos cruzados teutónicos), ou Sul (a Itália da tradição clássica).»
Jorge Rodrigues em História da Arte Portuguesa Vol. 2

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Decorre amanhã, dia 7 de Setembro, pelas 18:00, na Sala de Âmbito Cultural do El Corte Inglês de Vila Nova de Gaia, a apresentação do livro Arte Românica em Portugal da autoria de Lúcia Rosas, professora associada com agregação do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto); Leonor Botelho, doutorada em História da Arte Portuguesa pela FLUP; e Miguel Tomé (arquitecto e mestre em História da Arte Portuguesa pela FLUP). Esta é uma iniciativa da responsabilidade do El Corte Inglês, Fundação Ramón ArecesFundação Santa Maria la Real, na qual participará D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, que fará a apresentação deste livro, presidindo ainda à inauguração de uma exposição de fotografia intitulada O Românico em Portugal, patente naquele espaço até ao próximo dia 1 de Outubro do presente ano.
A entrada é livre.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Filosofia Oriental estudada a partir de Lisboa

«O Oriente, na diversidade das suas culturas, civilizações e religiões, sempre surgiu para os ocidentais como uma ideia e imagem ambivalentes, ora como objecto de temor, desconfiança e repulsa, sinónimo de um arcaísmo a ultrapassar pelo progresso racional, científico, histórico e social, ora exercendo um fascínio extremo, como sinónimo de uma fonte de sabedoria perdida ou esquecida, que importaria reencontrar para uma reorientação espiritual da própria consciência e para um verdadeiro renascimento da civilização ocidental, assombrada com a perspectiva da sua decadência. 
Associado ao símbolo do sol nascente e da Origem, a demanda do Oriente geográfico e cultural, tão presente na história e na cultura portuguesas, converteu-se também na de um Oriente interior, como essas “Índias espirituais”, “que não vêm nos mapas”, que no dizer de Fernando Pessoa seriam a descoberta que restaria por fazer, após o desvendamento do mundo físico.»
Excerto retirado do texto introdutório do curso Filosofia no Oriente.

Sendo Portugal uma nação que desde há séculos se constituiu herdeira de uma vasta e profunda tradição universalista, fruto não apenas de uma expansão imperialista, mas também de uma missão espiritual superior e transcendente, destinada a preparar o regresso da humanidade à sua idade de ouro e ao paraíso perdido, parece-nos pertinente questionar o porquê de vivermos constantemente de costas voltadas para o que nos é mais estranho e exotérico. Este factor, de certo modo condicionador da nossa missão civilizadora, impede-nos de alcançar um desejável grau de alteridade, capaz de nos permitir agilizar o intelecto, potencializando a nossa percepção de um todo universal constituído pelo que nele encerra de mais distinto e particular. Não deixa por isso de ser curioso que as elites intelectuais portuguesas tenham descurado tanto, ao longo dos tempos, o fomento de centros de estudos orientais, vocacionados para o aprofundamento do conhecimento relativo às culturas autóctones, em detrimento de um pensamento culturalmente centralista e circunscrito, típico das sociedades colonialistas. Até países como a Inglaterra, França ou Holanda, geralmente apontados como terríveis potências colonizadoras, das quais sempre nos procuramos demarcar historicamente, souberam perceber a importância de compreender e estudar as culturas orientais, fundando inúmeros centros de estudo e investigação. Mesmo países com menos tradição no que toca aos contactos permanentes com o Oriente, como é o caso de Itália ou Alemanha, souberam investir nesse sentido, ficando Portugal algo arredado desse investimento cultural, salvo algumas raras e nobres excepções, responsáveis pela manutenção de uma certa chama que nos ilumina o caminho para as Indías Espirituais.
Assim, surge com a maior das pertinências, no âmbito das actividades de formação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) previstas para o ano lectivo de 2011-2012, um Curso de Especialização dedicado ao tema Filosofia no Oriente, com a coordenação científica de Paulo Borges, Carlos João Correia, Carlos H. do C. e Bruno Béu. Direccionado a todos os que pretendam compreender o fenómeno de ressurgimento e popularização do interesse pela cultura oriental, de uma forma séria e coesa, este curso demonstra um esforço revelador de uma vontade de recuperar o tempo perdido.

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Programa geral do curso

1º Semestre

- Introdução ao Budismo.
Paulo Borges
5ª feira, 17h-19h

- Filosofia Clássica Indiana.
Carlos João Correia
6ª feira 17h-19h

2º Semestre

- Mística Cristã e Gnose Oriental
Paulo Borges (org.), Carlos H. do C. Silva e Bruno Béu
5ª feira, 17h-19h

- Oriente/Ocidente: diálogos e cruzamentos.
Paulo Borges (org.)
6ª feira, 17h-19h