sábado, 1 de outubro de 2011

Pedro do Porto e os alvores da "era dourada" da polifonia portuguesa

«A mais antiga obra de polifonia portuguesa, da qual conhecemos o seu autor, é o Magnificat de Pedro do Porto. Esta encontra-se conservada num códex da catedral de Terragona. (...) Pedro do Porto é um pouco como um símbolo da transição que se efectua na sua época no panorama musical ibérico.»
Rui Vieira Nery em História da Música

O contributo português para o desenvolvimento da música ocidental foi particularmente notório entre os séculos XV e XVII, durante a também apelidada "era dourada" da polifonia portuguesa. Durante este período assistiu-se ao aparecimento de um expressivo número de importantes compositores que haveriam de criar escola e influenciar todo o panorama musical da sua época. A Pedro do Porto, também conhecido por Pedro de Escobar, juntaram-se posteriormente os nomes de Duarte LoboPedro de CristoFilipe de MagalhãesManuel Cardoso, Manuel MendesFrancisco Martins, entre outros que fizeram através da polifonia a transição entre a música renascentista e barroca.
A importância de Pedro do Porto advém não só do seu talento, como também do facto de ser o autor da obra polifónica portuguesa mais antiga, da qual se conhece o nome do seu compositor. 
Da sua vida pouco ou nada se sabe até ao ano de 1489, data em que entra ao serviço da corte de Isabel I de Castela. Conjectura-se que terá nascido por volta de 1465, na cidade do Porto, de onde era tido como natural, segundo as descrições coevas. Os seus primeiros trabalhos conhecidos foram desenvolvidos em Castela, onde se destacou como cantor e compositor, mas por volta de 1499, Pedro tenta pela primeira vez a sua sorte em terras portuguesas, onde viria trabalhar até 1507, data em que foi convidado a exercer o cargo de Mestre de Capela na Catedral de Sevilha. Contudo, o facto de sentir-se descontente com a sua condição económica faz com que regresse a Portugal a título definitivo por volta de 1521, onde se torna Mestre de Capela na Catedral de Évora, a convite do filho de D. Manuel I, o Infante-Cardeal D. Afonso. Aí, a partir da sede episcopal eborense, Pedro do Porto terá contribuído com o seu trabalho na preparação de toda uma geração de músicos e compositores que haveriam de tornar a cidade de Évora num dos grandes centros da música ocidental.
Infelizmente, por motivos pouco claros, Pedro acabou por abandonar o seu lugar naquela diocese em 1528, tendo sido substituído nas suas funções de Mestre da Capela pelo espanhol Mateus de Aranda. O último registo no qual se faz menção de Pedro do Porto, datado de 1535, dá conta de um homem arruinado pelo álcool, vivendo na mais profunda miséria. 
Terá morrido pouco depois na cidade de Évora, esquecido, um pouco à imagem de Luís Vaz de Camões, que haveria de falecer alguns anos mais tarde, em condições semelhantes... 


Excerto da obra Magnificat do compositor Pedro de Escobar,
também conhecido como Pedro do Porto, numa interpretação do
grupo Segréis de Lisboa.

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