sexta-feira, 28 de março de 2014

António José de Brito e Rodrigo Emílio, uma evocação conjunta

O semanário O Diabo publicou no passado dia 25 de Março um artigo de Bruno Oliveira Santos, homenageando António José de Brito e Rodrigo Emílio. Esta evocação conjunta surge numa altura em que se cumprem, aproximadamente, seis meses sobre o desaparecimento do filósofo e uma década sobre a morte do poeta, falecido a 28 de Março de 2004. Deste modo, aproveitando-se a efeméride que marca o dia de hoje, partilhamos esse mesmo texto, numa clara demonstração de saudade perante estas duas figuras ímpares da cultura portuguesa. 

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quinta-feira, 27 de março de 2014

A nossa "ditadura" durante os anos 1940

Insiste-se, repetidamente, no terrível obscurantismo dos "anos de Salazar". No entanto, a verdade mostra-se bem diferente daquela que a História oficial do regime dos últimos quarenta anos procura fazer vincular. 
Não faltam provas e testemunhos capazes de comprovar o brilho e a centralidade de Portugal durante a época em questão. O período durante o qual decorreu a II Grande Guerra constitui disso um exemplo paradigmático. Enquanto a Europa ardia no mais violento episódio da sua grande guerra civil e o mundo perdia o Norte perante o crescimento hegemónico dos imperialismos norte-americano e soviético, Portugal soube manter-se fidelíssimo a si mesmo, preservando o seu espírito, os seus valores, a sua cultura e, acima de tudo, a sua independência. 
Fomos durante aqueles turbulentos anos o rosto do exemplo e da esperança para o mundo, cultivando a cultura e civilização, onde outros apenas conseguiam fazer prosperar a miséria e a barbárie. Não será por isso de estranhar que a esta nossa Pátria, livre e independente, chegassem refugiados vindos dos mais diversos locais. Entre estes, os muitos intelectuais que por cá passaram gozavam de plenas liberdades, podendo desenvolver os seus trabalhos, criando redes de contactos que, não raramente, se estendiam aos nossos próprios artistas, sábios e homens de cultura. 
Aos menos convencidos aqui fica um exemplo que atesta esta nossa reflexão:
«Conheci ontem, em casa do António Ferro, Ortega y Gasset. Que conversa apaixonante! Como vai ficar muito tempo em Portugal, espero estabelecermos uma relação de verdadeira amizade. Falou-me no livro - fabuloso! - que escreve.»
Mircea Eliade na entrada de 27 de Março de 1942 do seu Diário Português

Panorama da capital portuguesa em vésperas da II Guerra Mundial.

terça-feira, 25 de março de 2014

É a Hora!

«É esse fraterno despertar da consciência que, emergindo deste "Nevoeiro" que ora somos, pode ser a aurora do (des)cobrimento Sol invicto de um Novo Dia.»
Paulo Borges na introdução da obra É a Hora!

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A publicação da Mensagem de Fernando Pessoa constitui um dos momentos de maior elevação espiritual no contexto da cultura portuguesa no século XX. Obra incontornável na História da nossa poesia, encerra nos seus versos um conjunto de misteriosas cifras associadas ao passado e ao futuro de um Portugal caracterizado por duas dimensões: histórica e anistórica. É a Hora!, o mais recente livro de Paulo Borges, propõe-nos uma chave para a leitura desta enigmática obra.
Indo de encontro às correntes despiritualizadas que caracterizam os actuais poderes instalados e o seu respectivo sistema, muitos intelectuais da nossa praça parecem conscientemente esquecer-se de que a Mensagem foi, efectivamente, o único livro que Fernando Pessoa publicou em vida. Ao contrário do que a cultura dominante afirma, este livro não representa de modo algum uma obra menor dentro do panorama literário nacional e muito menos no contexto geral do universo pessoano. Coroando o seu lado de nacionalista místico, a Mensagem apresenta-nos um Fernando Pessoa mitogenista e profético, revelador de um Portugal perene e arquetípico. O enigma e o mistério dominam assim a natureza desta obra, suscitando as mais complexas leituras e interpretações.
Tendo chegado às livrarias em finais de 2013, na véspera do primeiro centenário da obra Mensagem, o ensaio É a Hora! de Paulo Borges, publicado pela Temas e Debates / Círculo de Leitores, nasce de um profundo contacto desenvolvido e cultivado ao longo de mais de três décadas pelo seu autor face àquela obra de Fernando Pessoa. Um diálogo estreito mas labiríntico que nos leva a meditar acerca das leituras e interpretações profético-mitológicas, simbólicas e histórico-filosóficas levadas a cabo por um dos mais importantes nomes vivos da filosofia portuguesa.
Paulo Borges surge hoje associado a diversas dimensões da nossa vida pública. Conhecido como Professor, activista, político e filósofo, o seu nome inscreve-se nos anais da cultura nacional desde finais dos anos 1970. Desde então o seu percurso tem sido trilhado no sentido de uma demanda pelo saber e o conhecimento, sempre numa perspectiva indissociável da busca e revelação do espírito. Partindo do particular para o universal, é na esteira desta mesma tradição filosófica e sua respectiva operatividade que nasce a obra É a Hora!, reveladora de uma revolucionária interpretação da mensagem da Mensagem. Segundo o autor, «o espírito desta obra visa que, ao lê-la e compreendê-la, sejamos movidos para fazer aqui e agora alguma coisa de essencial, sermos agentes de uma transformação profunda, de nós mesmos, de Portugal e do mundo.» Esta é a essência fundamental deste livro que, para além do desvelamento dos símbolos, mitos e arquétipos que encontramos na Mensagem, impede que os mesmos cristalizem, mantendo-os vivos, através da tentativa da sua renovação.
Sendo É a Hora! uma obra de comentário e interpretação da Mensagem, nela reproduzem-se integralmente os poemas que a constituem, respeitando-se a sua ortografia original, tal como foi publicada em 1934. Outra importante nota quanto à ortografia recai sobre o próprio conteúdo filosófico-ensaístico de Paulo Borges que, naturalmente, não obedece ao novo acordo ortográfico. Um pequeno grande pormenor que contribui para a excelência de um dos mais interessantes livros recentemente publicados no âmbito dos estudos pessoanos.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Saudade de ter Saudade!

Desfado

Quer o destino que eu não creia no destino
E o meu fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
Ai que alegria, esta tão grande tristeza
Esperar que um dia eu não espere mais um dia
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém
Que aqui está e não existe
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem
Só por eu andar tão triste

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande certeza de não estar certa de nada

Ana Moura interpreta o Desfado.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Amorim de Carvalho: Tese e Antítese!

Amorim de Carvalho, director da histórica revista Prometeu, é para muitos ainda um nome desconhecido, ou pouco familiar. Contudo, o alcance da sua obra é bastante vasto, abrangendo áreas como a poesia, literatura e filosofia, às quais prestou relevantes contributos, tanto numa perspectiva crítico-ensaística, como criadora. A sua obra e memória têm sido preservadas e divulgadas através da Fundação da Casa Amorim de Carvalho. Uma instituição fundada no Porto em 1980, dedicada ao estudo e conservação do espólio do seu patrono. 
Ao longo dos últimos tempos, a Casa Amorim de Carvalho tem promovido vários encontros e conferências, bem como publicado algumas das suas obras. O próximo encontro organizado por esta fundação está marcado para Quarta-Feira, dia 12 de Março, pelas 18:00, na FNAC da Rua Santa Catarina, no Porto. O orador, Júlio Amorim de Carvalho, administrador da Casa Amorim de Carvalho, fará a apresentação da obra Tese e Antítese, numa sessão marcada pela abordagem dos seguintes temas amorinianos: Uma nova interpretação dialéctica da realidade, A realização da tese na subjectividade, O nada e a origem do mundo, A criação do mundo por Deus, O mundo sem origem, Crítica da dialéctica Hegeliana e Da etnia à cultura de civilização.
A entrada é livre e aberta a toda a comunidade!

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terça-feira, 4 de março de 2014

Recordar Dalila L. Pereira da Costa

«É a esta juventude actual, que irá todo o meu respeito de fervor e esperança.
Não pelo que conseguiu já de realizado, mas pelo que ela tem desejado. Pela sua sede dum outro mundo e não-conformidade com este de agora.»
Dalila L. Pereira da Costa em Os Jardins da Alvorada
Dalila L. Pereira da Costa.

Para além de poetisa, escritora e ensaísta, Dalila L. Pereira da Costa (1918-2012) representa o rosto feminino da Filosofia Portuguesa, figurando ao lado de personalidades como António Quadros, Pinharanda Gomes, Afonso Botelho, António Telmo, ou Orlando Vitorino, no encalço da mesma tradição filosófica dos mestres Álvaro Ribeiro e José Marinho. Tendo a cidade do Porto como berço, integrou o seu pensamento numa linhagem cultural que muitos acabaram por designar de “Porto Culto”.
Apesar das suas obras apenas terem começado a ser publicadas a partir dos anos 1970, a vasta bibliografia que nos legou de imediato se revelou de extrema importância para a compreensão da História, cultura, pensamento e espiritualidade portuguesas. Assumindo as influências que recebera de Martins Sarmento, José Leite de Vasconcelos e Henry Corbin, destacam-se entre os seus trabalhos obras como O Esoterismo de Fernando Pessoa, A Nau e o Graal, A Nova Atlântida, A Força do Mundo, Dos Mundos Contíguos, Corografia Sagrada, Contemplação dos Painéis, As Margens Sacralizadas do Douro Através de Vários Cultos, Introdução à Saudade – escrito em co-autoria com Pinharanda Gomes –, ou ainda a organização, com António Quadros, dos três volumes constituintes das Obras Completas de Fernando Pessoa, publicados pela Lello & Irmão Editores.
Durante o mês de Março celebram-se as datas do seu nascimento e exaltação pelo que o ensaísta Pedro Sinde e o realizador Henrique Manuel Pereira evocarão a sua memória no próximo Sábado, dia 8 de Março, pelas 15:00, na livraria Leya na Latina, no Porto, relembrando uma das mais fascinantes personalidades da contemporaneidade portuguesa. Este encontro será ainda marcado pela apresentação em primeira mão de um vídeo inédito com uma entrevista à autora, gravada aquando da realização do documentário Nome de Guerra, a Viagem de Junqueiro, produzido pela Escola de Belas Artes da Universidade Católica do Porto.