quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ariano Suassuna (1927-2014): A fantástica vida do último grande sebastianista

Falecido no passado dia 23 de Julho, Ariano Suassuna foi um guardião do inexpugnável bastião da lusitanidade em terras brasileiras. Encontrando uma forma perfeita de ligar a modernidade e a vanguarda à herança ancestral da nossa tradição e seus respectivos mitos e arquétipos, conseguiu não só recuperar o espírito daquela que seria a mais óbvia das extensões ultramarinas da portugalidade, como também contribuir para a definição do ethos e da identidade real do povo brasileiro, em particular dos nordestinos.
Da autoria de José Almeida, o artigo Ariano Suassuna: A fantástica vida do último grande sebastianista, originalmente publicado na edição de 29 de Julho do semanário O Diabo, foi agora reeditado no Suplemento Cultural do Diário do Minho. Uma vez mais acompanhado pela belíssima ilustração da artista brasileira Haylane Rodrigues
Vale a pena ler e conhecer a vida e obra daquele que, seguramente, poderemos considerar o último grande sebastianista.

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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Auto da Primavera: Uma peça esquecida de Luiz de Freitas Branco!

«Ao terminar a leitura do conto O Inverno durava há muito, coincidindo com a conversa havida com António Sardinha e João Cabral do Nascimento, veio-me a inspiração de um trabalho repassado de misticismo e de um fôlego, numa noite, escrevi o Auto da Primavera, que foi publicado em 1919, com música e meu primo o Professor Luiz de Freitas Branco.»
Visconde do Porto da Cruz na introdução do Auto da Primavera.

Capa da segunda edição do Auto da Primavera (1950).

Há alguns anos atrás, de visita à Escola Superior de Dança, escutamos estupefactos um professor de música afirmar, com bastante arrogância e presunção, que não tratava os compositores portugueses nas suas aulas por estes serem menores e não apresentarem obras musicalmente relevantes. Numa atitude que é transversal a praticamente todos os domínios da arte em Portugal, este professor deixou bem patente a ignorância e ignomínia com que a cultura nacional é hoje tratada em grande parte das nossas instituições.
A música erudita em Portugal não só existe, como constitui uma parte significativa do nosso património cultural. Não foi apenas com a idade de ouro da polifonia portuguesa que a cultura lusíada manifestou musicalmente o seu génio e esplendor. Tanto em períodos anteriores, como posteriores, chegando até ao nossos dias, a música portuguesa acompanhou ao longo dos séculos as várias tendências e revoluções, contribuindo em muitos casos para o desenvolvimento dos sucessivos movimentos de ruptura e vanguarda. Isto sem nunca perder a sua identidade e respectivas especificidades.
Infelizmente, nos últimos quarenta anos, à imagem de outras dimensões da cultura nacional, contrariando o nome de um interessante projecto de recuperação do nosso património musical, somos obrigados a afirmar que a música portuguesa não tem gostado de si própria. Nas primeiras páginas da obra seminal Música Minimal Repetitiva, o saudoso musicólogo Jorge Lima Barreto apontou o dedo a três factores que estariam na base desta triste realidade. A inépcia dos contratos culturais dos sucessivos governos; a influência dos mass media, controlados por uma “musoburocracia” que, de um modo inclemente, serve os empresários discográficos dependentes dos interesses estrangeiros; e por fim o próprio público, levado a desconfiar e repudiar tudo o que é português. Conforme podemos testemunhar quotidianamente, a análise destes três pontos é essencial para percebermos o esquecimento ao qual está votado o nosso património musical.
Luiz de Freitas Branco, renomada personalidade do panorama cultural português do século XX, constitui um dos muitos incontornáveis exemplos que nos permitem e obrigam a contrariar comentários infelizes como os daquele pobre professor, repetidor das directrizes antipatriotas do sistema. Compositor, músico e professor, Luiz de Freitas Branco fez parte dos seus estudos na Alemanha. Em Portugal manteve-se sempre próximo do Integralismo Lusitano, convivendo com Alberto Monsaraz, António Sardinha e Hipólito Raposo. Entre os seus alunos no Conservatório de Lisboa, do qual chegou a ser subdirector, constam nomes como Joly Braga Santos ou Maria Campina. Contudo, foi na área da composição musical que deixou a sua marca, através de uma extensíssima obra cujo inquestionável valor o imortalizou na História da Música.
No entanto, também os nossos compositores mais célebres possuem trabalhos menos conhecidos que aguardam o momento de serem redescobertos. É o caso do Auto da Primavera, obra «repassada de espiritualidade», acompanhada pela música de Luiz de Freitas Branco, escrita em meados de 1919 pelo seu excêntrico primo, o Visconde do Porto da Cruz. Nascida de um repto lançado por António Sardinha e João Cabral do Nascimento, esta obra pitoresca de inspiração místico-religiosa suscita a curiosidade de todos quanto se deleitam ao mergulhar num típico quadro romântico de inícios do século XX. Resta-nos hoje a virtude de aguardar pela possibilidade de voltarmos a poder ouvir esta peça, há décadas esquecida.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Entrevista com Gerhard Hallstatt no seu regresso a Portugal

Em vésperas do seu regresso a Portugal, onde irá participar na edição de 2014 do Festival Entremuralhas, Gerhard Hallstatt, mentor do projecto musical Allerseelen, concedeu uma interessante entrevista ao semanário O Diabo. Entre as memórias das suas viagens por Portugal e das amizades que aqui foi construindo, o austríaco - músico, escritor e aventureiro -, revelou a sua afinidade pela cultura portuguesa, situando-a na sua conhecida mundividência europeia.
Vale a pena ler esta entrevista e assistir ao concerto de Allerseelen que terá lugar já no próximo dia 30 de Agosto, no Castelo de Leiria. Não percam!

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Do Novo Des-Cobrimento

Do Novo Des-Cobrimento é um poema de José Valle de Figueiredo publicado durante o corrente ano na revista Mama Sume, pertencente à Associação de Comandos. Ilustrado por Vítor Luís, este trabalho poético integra-se no espírito patriótico e místico-nacionalista que constitui grande parte da obra do poeta portuense.
A arqueologia do sagrado e do ethos cultural do Povo Português é, através destes versos, um canal para o futuro. Importa despertar e enfrentar afoitamente o caminho das Novas Índias! 

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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ruy Coelho: Mostra sobre o espólio de um compositor

«La musique a besoin d'une dictature.»

A mostra Ruy Coelho: o espólio de um compositor encontra-se patente
ao público na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) entre 4 de Julho e
4 de Outubro de 2014.

Conforme o apanágio das sociedades contemporâneas, os génios criadores e outras personagens intemporais das nossas comunidades são muitas vezes incompreendidas e proscritas da História. Ora por se encontrarem além do seu tempo, ora devido às mais abjectas variantes da mesquinhez humana. Em vésperas do centenário da revista Orpheu, importa rever algumas dessas injustiças de que foram alvo os mestres da nossa vanguarda.
Patente ao público na BNP, entre os dias 4 de Julho e 4 de Outubro, a mostra Ruy Coelho (1889-1986): o espólio de um compositor visa recuperar esta singular figura do panorama musical português do século XX. Tão incómodo como genial, Ruy Coelho foi sendo definido historicamente pelos seus antagonistas, quase sempre com recurso à mentira, ocultação, deturpação e desinformação. Esta mostra procura proporcionar, através do espólio do compositor, doado à BNP em meados de 2011, um novo olhar, mais autêntico, sobre a sua vida e obra.
Edward Luiz Ayres d’Abreu, o pianista e investigador responsável por esta mostra, afirmou: «Quanto mais descubro Ruy Coelho, mais vejo como é odiável o que lhe fizeram e o que lhe fazem. Odiável é pouco. O abismo entre a qualidade da sua obra e o quanto é conhecida é o abismo mais infame, grotesco, boçal, pérfido que jamais vi.» De facto, o epíteto de “compositor do regime”, associando-o ao espectro político do Estado Novo e à nossa direita radical, bem como a inveja e a incapacidade do statu quo em lidar com o pioneirismo precursor de grande parte da sua obra, acabaram por condicionar a sua exposição e afirmação nos anais oficiais da História da Música Portuguesa.
Nesta mostra dedicada ao compositor, a segunda promovida pela BNP desde 2011, podemos encontrar vários elementos integrantes do seu espólio, entre manuscritos autografados e cópias, materiais de orquestra, impressos da sua obra musical, bem como programas de sala, recortes de imprensa, fotografias, correspondência, cartazes, entre outros documentos e objectos pessoais. Uma visita a esta pequena exposição permite-nos traçar um rápido itinerário pelas suas ligações aos meios culturais e artísticos de Portugal e do estrangeiro. Da sua passagem pelo Conservatório Nacional, onde foi aluno de António Taborda, Marcos Garin, Tomás Borba e Júlio Neuparth, passado pela sua estadia em Berlim e Paris, onde estudou com Engelbert Humperdinck, Max Bruch, Arnold Schoenberg e conviveu com Paul Vidal. De volta a Portugal sublinham-se os contactos com Teófilo Braga, Alexandre Reys Colaço, a sua cumplicidade com a geração de Orpheu, em particular com Almada Negreiros, José Pacheko e António Ferro, assim como a sua aproximação ao ideário da Renascença Portuguesa ou a personalidades como António Corrêa d’Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Eugénio de Castro, Júlio Dantas, entre outros.
O compositor Ruy Coelho representa um dos casos mais assombrosos entre a união da tradição e a precocidade da modernidade no âmbito da música erudita do século XX. Um génio português de expressão mundial à espera de ser redescoberto na BNP.