domingo, 27 de setembro de 2015

O endeusamento da opinião e a entronização das urnas

Em vésperas de mais umas eleições legislativas, os portugueses parecem encontrar-se novamente mergulhados na dúvida e incerteza sobre quem melhor poderá liderar os destinos da Pátria. Presentemente, apenas podemos falar em liderança e jamais em chefia. Há muito destituída de um chefe capaz de zelar e fazer confluir os seus interesses, comuns aos destinos de todos os verdadeiros portugueses, a Pátria encontra-se aprisionada pelo banditismo destruidor e usurpador de uma partidocracia republicana, mais interessada em dividir para reinar, do que em cuidar pelo nosso bem-comum. 
Ostracizados de forma mais ou menos consciente por um regime votado à analfabetização funcional de cada indivíduo, os portugueses são novamente chamados a assinar de cruz. Um gesto de ilusória liberdade e consciente responsabilização por parte de uma máquina opressora que se sabe legitimar. 
Lúcido e incisivo, Álvaro Ribeiro alertou-nos logo em inícios da década de 1980 para o que se estava a passar no Portugal pós-25 de Abril de 1974, sabendo também apontar a raiz do problema, conforme podemos ler neste interessante excerto retirado do 3.º volume da sua obra Memórias de um Letrado:
«Destituídos de verdadeira educação cívica, nem os adolescentes nem os adultos se encontram filosoficamente aptos a votar, a escolher e a decidir sobre cada um dos diferentes e diferenciados problemas de que se ocupam quantos exercem as mais altas funções na administração de República. A instrução recebida, a parcialidade, da ciência ou da técnica, no dizer de Spencer, habilita-os muito mais a negar do que a afirmar, a destruir do que a construir, a actuar em massa do que a reflectir em solidão. A doutrina platónica, vigente na Idade Média, primava em estabelecer que só a educação filosófica poderia garantir ao príncipe o direito de ser corado rei, mas na Idade Moderna a luta contra a monarquia foi tomando aspectos de luta contra a filosofia até culminar no paradoxal endeusamento da opinião e no ritual absurdo de entronização das urnas ou das armas.»
Capa do 3.º volume da obra Memórias de um
Letrado
, do filósofo português Álvaro Ribeiro. 

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