terça-feira, 5 de abril de 2016

A Obra e o Pensamento de Amorim de Carvalho

«Portugal é uma pátria que a vontade dos portugueses dignos deste nome (verdadeiras elites) construiu e sustentou, e que a vontade de uma outra raça moral de portugueses (falsas elites) demoliu.»
Amorim de Carvalho em O Fim Histórico de Portugal

Passaram quatro décadas desde a morte de Amorim de Carvalho. Personalidade de invulgar inteligência e erudição, marcou de forma indelével a cultura portuguesa, deixando um importante legado cujo eco e influência ultrapassou as nossas fronteiras, chegando a França e Brasil. Nos próximos dias 6 e 7 de Abril terá lugar, no Porto e em Lisboa, um colóquio que visa evocar e discutir a obra e o pensamento deste intelectual.
Destacando-se como poeta, filósofo e esteta, Amorim de Carvalho nasceu na cidade do Porto em 1904. Bisneto por via materna do poeta romântico António Pinheiro Caldas, foi educado no seio de uma família católica, apesar de ainda bastante jovem se ter afastado da fé religiosa. Na sua formação foram importantes as figuras de Teixeira Rego e Basílio Teles. O primeiro, Professor na primeira Faculdade de Letras da Universidade do Porto, colaborador da revista Águia, era um homem de grande sabedoria, interessado em filologia, línguas, filosofia, antropologia e outras áreas do conhecimento, igualmente, caras a Amorim de Carvalho. O segundo, amigo de família, foi uma das personalidades de maior destaque intelectual junto da elite republicana, destacado helenista, bem como um português e europeu consciente da sua condição.
Não obstante a presença e proximidade de tão cativantes vultos, Amorim de Carvalho trilhou um caminho próprio, afastando-se em alguns aspectos das linhas filosóficas seguidas por estes dois pensadores de quem absorveu, essencialmente, os exemplos ético e humano. A sua forte personalidade, aliada a um espírito combativo e intransigente, fizeram-no ganhar o respeito intelectual e algumas amizades até junto daqueles que se antagonizavam com o seu pensamento. Lembramos, por exemplo, o caso de Álvaro Ribeiro, de quem foi bastante amigo, apesar das diferenças e divergências de pensamento existentes entre ambos os filósofos.
O seu legado foi construído entre Portugal e França, país onde voluntariamente se exilou, em 1965, em resultado do isolamento intelectual sentido na sua Pátria. Fixando residência em Paris, apresentou aí, em 1970, a sua tese de doutoramento intitulada De la connaissance en général à la connaissance esthétique. L’esthétique de la nature. Para além da obra poética e literária de Amorim de Carvalho, destacam-se estudos e ensaios como Deus e o Homem na Poesia e na Filosofia, O Positivismo Metafísico de Sampaio Bruno, Fidelino: Um Filósofo da Transitoriedade, Guerra Junqueiro e a sua obra poética, ou o seu importante Tratado de Versificação Portuguesa” - obra que o poeta Rodrigo Emílio considerava indispensável.
O seu último livro, publicado postumamente, intitulou-se O Fim Histórico de Portugal, tratando-se de uma obra, marcadamente, política. Amorim de Carvalho, não tendo sido um partidário do Estado Novo, jamais sentiu qualquer sedução por ideários políticos anti-patrióticos. Deste modo, insurgiu-se de imediato contra o golpe de Estado de Abril de 1974, considerando o abandono das Províncias Ultramarinas um atentado à soberania da Pátria e uma traição contra o seu Povo.
Amanhã, às 14:30, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, inicia-se um colóquio de homenagem a este pensador, que termina no dia seguinte, no Palácio da Independência, em Lisboa. Entre os oradores convidados encontra-se Júlio Amorim de Carvalho, administrador da Casa Amorim de Carvalho, bem como Pinharanda Gomes, António Braz Teixeira, Paulo Samuel, José Almeida, Artur Manso, Renato Epifânio, Samuel Dimas, Manuel Cândido Pimentel, Filipe Delfim Santos, entre outros.
Organizado pelo Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, o Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e a Casa Amorim de Carvalho, este encontro é de entrada livre e aberto a toda a comunidade.

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